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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Mano Nunes em entrevista

O entrevistado do programa “A uma só voz”, da Aveiro FM, foi o actual líder da Comissão Administrativa do Beira-Mar. Mano Nunes respondeu a tudo, como o protocolo com a Câmara de Aveiro, o despedimento de António Sousa e a confiança que tem em Bruno Moura. “Sonhar, sonhamos sempre”, respondeu quando confrontado com a possibilidade da subida de divisão.


Por que é que decidiu voltar ao Beira-Mar?
Houve demasiadas pressões para voltar ao Beira-Mar e também não me sentia bem a ver o clube a agonizar e a extinguir-se, que é o que estava a acontecer naquela altura.


Foi por esse receio que decidiu avançar?
Essencialmente, foi por isso. Estava fora do desporto e nem estava a contar regressar. Mas o amor ao clube falou mais alto e decidi avançar para este projecto e tentar salvar o Beira-Mar juntamente com as pessoas que me acompanham.


Falou de pressões de pessoas. Quem é que se movimentou?
Muita gente movimentou-se. Desde o Movimento 1922 a outro tipo de pessoas que me pressionavam constantemente para que eu tomasse conta dos destinos do Beira-Mar. E, depois, como a situação do Beira-Mar estava a agravar-se, eu disse, julgo que ao Diário de Aveiro, que se Manuel Madaíl avançasse eu também avançaria. Tive que assumir a palavra dada.


Mas não foi uma decisão tomada de ânimo leve…
Não, porque tinha uma noção de que as coisas não estariam muito boas e, portanto, não iria atirar-me para uma “fogueira” daquelas sozinho. Manuel Madaíl deu-me força para eu avançar para aquele projecto, juntamente com os elementos que estão lá – que são aqueles que pretendia - mais os que estão na base da Comissão Administrativa, como é o caso do engenheiro Roque. E é interessante verificar que nunca o Beira-Mar teve tanta gente a trabalhar para o clube como agora.


Na intervenção que fez após a sua eleição, disse que pegava num clube no meio de uma tormenta. A tormenta já passou?
A tormenta está longe de passar. As coisas estão constantemente a cair. Eu costumo dizer que nós temos o nosso orçamento e ainda temos que pagar um outro orçamento. Mas com boa vontade, com muito sacrifício das pessoas envolvidas no projecto, temos conseguido levar o clube a “bom porto”.


Quanto herdou de passivo da direcção anterior?
Não sei. As contas estão a chegar e na Assembleia Geral (n.d.r.: hoje à noite) as pessoas vão ter a oportunidade de saber. Aquilo que posso dizer é que é muito. Nessa altura, os sócios vão saber que, quando eu disse que o clube estava “ligado à máquina”, não foi em vão. O clube está mesmo “ligado à máquina”.


Nos cinco milhões de euros de passivo também estão incluídos os empréstimos que a anterior direcção contraiu junto da banca?
Está tudo incluído. São valores que terão que ser pagos a curto/médio prazo e que torna a situação do Beira-Mar ainda muito mais gravosa.


O clube está à espera das verbas da autarquia para fazer face ao passivo?
Não podemos falar na autarquia. Se falarmos na EMA, temos que falar na Câmara porque o presidente da EMA é o presidente da autarquia. A EMA tem valores muito significativos em débito para com o Beira-Mar mas não é, nem de longe nem de perto, aquilo que a EMA deve ao Beira-Mar que vai resolver o problema do clube.


A quem é que o clube deve os cinco milhões de euros?
Sinceramente, acho que não devemos voltar atrás e andar com “guerras de manjerona”. Devemos é pensar no futuro porque isso é que é importante.


Mas como se explica que o clube tenha um passivo desta dimensão?
Foram erros cometidos no passado que não vale a pena estar a aprofundar. Neste momento, estou ansioso por sair do Beira-Mar. Mas quero sair com o clube na situação em que o deixei, e quero que os sócios aprovem uma coisa muito simples: a blindagem a gestões ruinosas que possam aparecer. Basta colocar nos estatutos aquilo que aprovaram clubes como o Paços de Ferreira, Aves e Feirense, ou seja, que quem for para o clube terá que o deixar da forma como o encontrou. Se isso acontecer, as pessoas que pensem vir para o Beira-Mar têm de pôr dinheirinho para deixarem o clube conforme o encontraram.


Como é que deixou o clube quando lá esteve?
O passivo que deixei era de longo prazo. Havia o "Plano Mateus" e a dívida ao Eng. Pascoal, em que tínhamos que pagar à fundação uma verbal anual. O que as pessoas não sabem é que o Beira-Mar também é herdeiro do Eng. Pascoal, tem uma quota da herança do Eng. Pascoal. Eram dívidas perfeitamente controladas. Por outro lado, nós deixámos um activo na ordem dos 600 mil euros. Eram dívidas cobráveis. Apenas a do Boavista é que ficou incobrável. Ainda hoje estamos para receber cerca de 150 mil euros. Mas deixámos cheques pré-datados do Benfica. Deixámos um excedente de 600 mil euros.


Disse que a dívida da EMA não chega para resolver o passivo. Como é que se resolve este problema?
Tem que ser gerido de uma maneira bastante inteligente e o protocolo que a Câmara nos apresentou, e que vamos pôr em prática, vai-nos permitir colocar o clube, não direi numa situação desafogada, mas, trabalhando bem, a zero.


Isso implica alienação do património a curto prazo?
Sim, implica a alienação e compra de património. Não vamos delapidar património. Vamos vender e comprar património. Vamos fazer com que o Beira-Mar seja transportado para junto do estádio novo, na sua totalidade, pensando manter um pólo na cidade, porque é importantíssimo manter uma sede para que os sócios se possam identificar com o Beira-Mar e possam estar próximos do clube. Vamos tentar pensar no Centro de Dia, no próprio estádio, para os sócios do Beira-Mar e para as outras pessoas. Isto é um sonho que tenho há muito tempo. Vamos tentar criar, também, um infantário; desenvolver a academia e, ao mesmo tempo, fazer uma escola de formação em que as crianças, desde pequeninas, sejam canalizadas para as modalidades que existam, conforme as suas aptidões.


Tem-se criticado o facto de o novo estádio ser um “elefante branco”, mas o Beira-Mar quer dinamizar aquele espaço?
Tínhamos essa ideia anteriormente e vamos reavivá-la agora. Mas precisamos do auxílio das forças vivas da cidade, da união de todos os beiramarenses e que a autarquia nos ajude, porque não é fácil gerir um “monstro” daqueles a partir do nada. Não será o Beira-Mar que terá a capacidade de gerir o estádio sozinho e substituir-se à Câmara e ficar com os 80 ou 90 mil euros que todos os meses a Câmara está a investir naquele “elefante”. Se tudo isto for bem tratado, bem negociado, é evidente que poderemos ir longe.


Tem havido conversações com a Câmara sobre isso?
Tem havido conversações com a Câmara, embora eu não tenha feito parte dessas conversações, que estão a cargo de Manuel Madaíl e do eng.º Alberto Roque. Estamos inteiramente gratos à autarquia, porque foi um acto de inteligência conseguir encontrar este caminho. Só lamento que o PS tenha votado contra. Eu posso arranjar 31 mil razões para votar contra, mas só as razões de fundo é que são importantes.


O PS alega que há um choque de interesses porque até 2013 a Câmara poder vir a fazer uma concessão daquele espaço desportivo.
Ninguém acredita que uma qualquer força política ou extra-política vá arrancar o Beira-Mar de uma casa que vai ser dele. Aquilo que eu acho é que todas as forças políticas deviam ter votado a favor do protocolo. Aliás, até o próprio dr. Alberto Souto disse que se revia neste protocolo e aquilo que me parece é que há uma divisão interna dentro do próprio PS.


Levantaram-se dúvidas relativamente ao tamanho das piscinas a construir. Se serão iguais, ou não, às existentes?
Nesta altura ainda não podemos falar nada porque nem sabemos se temos investidor. Se aparecer um investidor, ele tem que garantir a prática da natação no Beira-Mar.


Isso porque as pessoas que doaram os terrenos fizeram-no para a prática do desporto?
O terreno não foi doado ao Beira-Mar. É outra coisa que é importante que as pessoas saibam. O Beira-Mar já é dono de grande parte do terreno que está ali. Se estamos a falar do terreno onde está o pavilhão, esse foi doado ao clube pela entidade que na altura geria os terrenos daquela zona e o interesse do Beira-Mar é rentabilizar esse terreno. Nesta altura, nem estamos a pensar vender esse terreno. Neste momento, o que nos preocupa é o terreno das piscinas. Se arranjarmos um investidor para o terreno das piscinas resolvemos a nossa prioridade principal. A secção de natação não irá parar. Procuraremos encontrar outras soluções para que a natação no Beira-Mar continue.


Com a alienação do património vai haver dinheiro para construir novas piscinas, pavilhão e campos de treinos?
Vamos ter que negociar bem isso. Esse é que será o grande mérito desta Comissão Administrativa: salvar o clube financeiramente e entregá-lo aos sócios. Estou convencido que dentro de três a quatro meses tudo estará resolvido.


Avançam para eleições nessa altura?
Sim. Mas aquilo que nós queremos é que seja criada uma comissão de acompanhamento a estes negócios para que seja tudo muito mais claro, limpo e para que percebam a qualidade que estamos a colocar neste processo.


Admite candidatar-se à direcção do Beira-Mar?
Não.


Então como é que quer levar este plano para a frente?
Eu e a Comissão Administrativa podemos lançar as raízes disto tudo.


Mas não tem medo de quem venha a seguir?
Não, porque aquilo que eu quero ver nos estatutos é que quem vier para o clube tem que o deixar da forma como o encontrou. Lá está: estaremos a blindar o clube a aventureiros.


Porque é que contratou António Sousa se já o tinha despedido uma vez?
Não, eu não o tinha despedido. Acabou o contrato e deixei de contar com ele.


Há quem diga que foi uma traição, quando contratou Mick Wadsworth. Na altura, António Sousa até foi bandeira eleitoral da sua candidatura.
Não é verdade. Se forem ver à imprensa eu nunca me comprometi com qualquer treinador. Agora, se ele me apoiou o problema é dele, porque eu nunca lhe pedi apoio. Está escrito que eu não tinha treinador. Desta vez fui buscá-lo porque tínhamos que chamar, a Aveiro, dois ou três nomes para levantar a mística do Beira-Mar, para ver se fazíamos a aglutinação de sócios. É evidente que no aspecto técnico as coisas não resultaram, mas o futebol é assim: não há resultados, as pessoas saem e estamos com um novo treinador.


Foi uma saída amigável ou há algum litígio?
Não, não há qualquer litígio. Vamos ter que pagar ao Sousa, porque ele não abdicou de nada. O Beira-Mar vai ter que pagar para o Sousa estar em casa.


Foi crítico da anterior direcção pela forma como trataram o caso Rogério Gonçalves, mas agora também despede um treinador…
Não, é diferente. Eu não estou a onerar o clube. Pagamos ao António Sousa os vencimentos até ao fim da época e temos um treinador que já lá estava.


A saída de António Sousa foi a melhor decisão?
Vamos ver. Eu lembro-me que quando o foi buscar, aqui há uns anos, ele tinha poucos meses de treinador. Disseram-me que era uma aposta de risco. Foi, isso sim, uma aposta de sucesso até determinada altura. Pode ser que agora se passe o mesmo. O risco tem que ser sempre bem calculado.


Confia no Bruno Moura?
Muito. Há cinco anos atrás, quando ele saiu do Beira-Mar, eu já dizia que ele ia ser um grande treinador. Eu já previa isso.


Como é que descreve e avalia a pessoa de Bruno Moura?
É um jovem com ambição, qualidade de trabalho e estou convencido que tem sagacidade e inteligência para ser um grande treinador.


É possível subir de divisão?
Sonhar, sonhamos sempre. É preciso é não esquecer que aquilo que esta Comissão Administrativa prometeu aos sócios foi salvar o Beira-Mar de morrer. Não me peçam subidas nem europas. Mas não vamos dizer que não sonhamos com isso. Se tivermos a sorte e a capacidade de dar o salto, tanto melhor.


Mas era importante ter o Beira-Mar na Primeira Liga.
O Beira-Mar é um clube de Primeira Liga. Mas não vamos é colocar o clube lá em cima a todo o custo.


Quando é que se acaba, de uma vez por todas, com este sobe-e-desce?
O futebol tem situações imprevisíveis. O Guimarães, que é um grande clube, também desceu de divisão. Às vezes entra-se numa espiral de derrota que é difícil de travar. Foi o que aconteceu na última época em que fui presidente. Ninguém está imune a que possam acontecer situações graves. O que não pode acontecer é pensar ir para o Beira-Mar e colocar o clube, a todo o custo, na primeira divisão porque senão acontece o que aconteceu e levou o clube à situação que está agora.


Olhando para o plantel, tem necessidade de ir ao mercado na reabertura?
Não sei. Ainda não falei com o treinador sobre isso. Eu julgo que temos um grande plantel. Mas se tiver que entrar alguém, terá que sair alguém.


O Bruno Moura está a treinar provisoriamente ou até final da época?
Quando lhe entreguei a equipa seria para ficar até final da época. Perguntei-lhe se sentia capaz e ele disse-me que sim. Passámos para a comunicação social que ele estaria a prazo para que pudesse fazer a sua maturação calmamente. Claro que é uma pessoa que tem que ter um processo de maturação muito rápido, porque não podemos estar constantemente a andar nisto.
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1 comments:

Anónimo disse...

Para memória futura: "Estamos inteiramente gratos à autarquia, porque foi um acto de inteligência conseguir encontrar este caminho."Mano Nunes, in DA 28-11-08