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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Competência não tem idade

O mais jovem treinador de uma equipa profissional em Portugal não tem medo do risco, nem tão pouco lamenta a desconfiança com que alguns olham para a sua liderança no Beira-Mar. Bruno Moura, 30 anos, que foi um jovem "futebolista muito fraquinho", não defende que a idade seja importante para definir a competência. Ou seja, o treinador sustenta que "a competência não tem idade", estabelecendo um paralelo com os jogadores. "Penso que é um pouco como os jogadores. Tanto se tem competência aos 18 como aos 32. Jogam os jogadores que mais competências mostram sem olhar à idade, pelo menos é o que eu penso", sustenta o técnico que, contudo, assume que não contava "ser treinador principal tão cedo", porque esperava "colher mais experiência enquanto adjunto durante mais alguns anos".

Ao fim de cinco épocas, Bruno Moura já tem um currículo invejável como "adjunto" ao lado de bons treinadores e clubes, estágios internacionais com alguns dos melhores técnicos onde alicerçou conhecimentos e as tais competências, e a vantagem de ter despertado atenção no Beira-Mar quando, em 2003/2004, iniciou na I liga a sua primeira experiência com António Sousa e Frasco. "Vai ser uma aprendizagem porque é o meu primeiro ano, mas também tenho algo a transmitir", disse numa sexta-feira 27 de Junho de 2003, quando foi apresentado à imprensa, deixando desde logo espaço para mostrar o seu trabalho. E mostrou. Começaram os treinos e a voz que se ouvia a dar ordens, a explicar os métodos e sempre com a bola a rolar era a de Bruno Moura.

"A minha forma de estar no futebol é interventiva. Sempre foi assim com todos os treinadores que trabalhei, quer em treinos, quer mesmo durante os jogos. Mesmo sabendo que não era minha a última palavra", recorda Moura sem "ter a consciência" de que essa postura chegava a fazer confusão aos seguidores do Beira-Mar: afinal quem era o treinador?

"Era o mister António Sousa, sem dúvida! Ele próprio queria que eu tivesse esse papel para ficar com espaço para outras observações. Numa equipa técnica todos sabem o seu espaço", sustenta o agora treinador principal Bruno Moura que não é diferente dos outros. "Como todos os treinadores, também estou a prazo. São as vitórias e as derrotas que determinam tudo", salienta o jovem técnico que quer "aproveitar o momento e desfrutar da situação de ser treinador principal e aprender a lidar com os bons e os maus momentos", porque quando escolheu seguir a carreira já sabia que não podia "embandeirar em arco com as vitórias, nem enterrar a cabeça nas derrotas".

"Por uma questão de coerência, devemos manter a mesma postura quando a bola bate na trave e não entra, ou quando entra na nossa baliza", diz, assumindo ser essa uma regra que já coloca em prática: "já ganhei e já perdi e continuo a trabalhar da mesma forma, com rigor e seriedade", chaves que considera determinantes para alcançar o caminho do sucesso. Quer como adjunto, quer como treinador principal.

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Respondeu "não" ao primeiro convite de Mano

Assumir o cargo de treinador principal de uma equipa estava nos horizontes a médio e nunca a curto prazo. Tanto assim que, quando António Sousa foi dispensado por Mano Nunes do comando técnico do Beira-Mar, Bruno Moura disse primeiro que não ao convite do líder da Comissão Administrativa aveirense. "Não foi por uma questão de medo ou por entender que ainda não tinha chegado a hora. O que disse ao presidente foi que não queria ocupar o lugar de um colega, no caso do mister António Sousa, por quem continuo a ter muito, muito apreço", explica Moura que, contudo, foi "picado" por Mano Nunes. "O presidente perguntou-me se eu não sentia competência para ocupar o cargo e aí tive de ser sincero. Disse-lhe que sentia competência, sim senhor, e então, se ficasse claro que não estava a ocupar o lugar de ninguém, aceitava. Da mesma forma, o próprio mister Sousa deu-me força para agarrar a oportunidade".

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Agora, é "profe" ou "mister" Bruno?

"Alguns jogadores tratam-me por "profe", outros por "mister". Não vejo qualquer problema nisso. E não haverá, de facto. O que pode haver é a tal confusão momentânea. Ontem era o metodologista de treino que brincava com os jogadores, hoje é o "homem" que ri menos e "dá" as broncas. "Sinceramente, quando assumi a equipa não senti nem dei importância alguma a essa terminologia. O relacionamento mantém-se, embora seja verdade que, agora, talvez não entre em tantas brincadeiras. Mas continuo a participar nas peladinhas", sorri. "O mais importante é manter a qualidade no trabalho e ter a percepção de todos os momentos no grupo".

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Impressionante treino de Bobby Robson

A possibilidade de estudar o futebol em Portugal, Espanha e Itália e beber conhecimentos com treinadores de qualidade enquanto adjunto, ajudou. "Colhi ensinamentos com todos". Mas um deixou-o impressionado: "Ver Bobby Robson trabalhar foi um prazer. Impressionante! O futebol para ele era todo ao ataque. Os seus treinos tinham uma dinâmica fabulosa!", sublinha Moura que vê em Jorge Jesus, técnico do Braga, um dos "melhores estrategas" que conhece. "Sabe tudo de táctica. Foi fantástico trabalhar com ele [n.d.r. no Moreirense]. Mas há mais: para além de Sousa - "o primeiro a acreditar em mim" -, Fernando Santos de quem colheu as melhores indicações sobre "disciplina e rigor" no Benfica e a "boa experiência" com Rui Bento em Viseu. "Era o seu primeiro ano de treinador e serviu para gerir vários processos de uma forma diversificada".
Artigo: O JOGO
Fotos: S. JESUS
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Bruno Moura será o convidado do programa Desporto Falado, na próxima Terça-Feira (19:00), na AveiroFM.

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