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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Beira-Mar: um Projecto da Cidade.

Diz-nos a história que foram nos momentos de crise que as grandes individualidades emergiram e marcaram decisivamente as épocas em que viveram e o futuro dos povos. A história da humanidade reteve nas suas páginas referências a mulheres, homens e instituições que encontraram nas diversas crises oportunidades de desenvolvimento cultural, económico e social das comunidades onde se inseriam.
Na realidade, na maior parte das vezes, limitaram-se sabiamente a conjugar os parcos recursos existentes, mobilizando vontades em torno de ideais simples e de objectivos claros. A crise actual é mais abrangente que qualquer outra, atinge toda a humanidade, a sugerir de todos nós um enorme esforço de bem gerir os recursos existentes e de uma identificação clara das oportunidades que estão um pouco por todo o lado, muitas delas não são mais do que recursos mal utilizados ou mesmo não utilizados.
Esta reflexão faz-me pensar na nossa Cidade, nas dificuldades em que mergulhou, nos projectos que estão por implementar, ou que por circunstâncias conhecidas não tiveram o desenvolvimento esperado. Refiro-me, concretamente, ao Parque Desportivo de Aveiro, pensado nos mandatos do Dr. Girão Pereira, como uma nova centralidade para a cidade, como um factor de desenvolvimento do designado Turismo Desportivo. Mais tarde, na presidência do Dr. Alberto Souto, surgiu a oportunidade, com a atribuição da organização do Euro 2004 a Portugal, de se construir o primeiro equipamento para aquela área - o Estádio Municipal de Aveiro. Sendo um projecto âncora, era absolutamente necessário que fosse complementado com outros equipamentos que potenciassem o desenvolvimento desta nova centralidade. É então convidado o SC Beira-Mar para Clube residente do novo Estádio e é assinado um Protocolo com a Edilidade, que acometia a esta última a responsabilidade pela construção de novos campos de treino em terrenos adjacentes ao novo Estádio e a libertação do antigo Estádio Mário Duarte, outro pólo de desenvolvimento potencial da Cidade. Infelizmente, vicissitudes várias determinaram que passados quase cinco anos este Protocolo não tenha sido implementado.
O resultado está à vista de todos. O EMA continua a ser a única infra-estrutura naquele local. Nas suas funcionalidades e valências, para além dos jogos do SC Beira-Mar, poucas mais actividades alberga e algumas das suas áreas mais nobres estão completamente inactivas. O antigo estádio continua ocupado pela actividade de Formação do Futebol do SC Beira-Mar, que o partilha com a equipa profissional para a realização de alguns dos seus treinos em condições extremamente deficientes. A área envolvente apresenta um elevado grau de degradação. A cidade tem naquele terreno um dos seus espaços mais nobres com um enorme potencial de desenvolvimento, sem que o possa concretizar.
Este estado de coisas é por muitos encarado como uma fatalidade, um erro que não tem solução. Mas temos que saber encará-lo como uma oportunidade, até ao momento não aproveitada, porque o é de facto e é nos momentos de crise que as opções por decisões de optimização dos recursos existentes, conjugando vontades e interesses no serviço à comunidade, deverão ser rapidamente implementadas.
O Protocolo assinado entre a CMA, EMA e o SC Beira-Mar, em 04 de Dezembro último, reflecte esse interesse comum, não tendo merecido nos seus objectivos qualquer reparo das diferentes forças políticas representadas na Assembleia Municipal. Todos reconheceram o potencial do Clube e do seu ecletismo, que envolve cerca de oitocentos atletas, cerca de duas centenas de colaboradores, e as respectivas famílias, enquadrado com a deslocalização de todas as actividades do Clube para o Parque Desportivo de Aveiro. Será de facto um factor decisivo na criação desta nova centralidade, de condições para a rentabilização do EMA e determinante para que os aveirenses assumam, como seu, aquele espaço. A implementação do Protocolo permite a requalificação urbana de dois dos espaços mais nobres da Cidade, a zona do pavilhão no Alboi e os terrenos do antigo Estádio Mário Duarte.
O SC Beira-Mar, enquanto Instituição de Utilidade Pública via, finalmente, reunidas as condições para aprofundar e incrementar o seu serviço à comunidade e perspectivar a sua auto-sustentabilidade.
Começou-se a desenhar para o Clube um projecto inovador que contempla uma Academia de Desporto que cumpra objectivos de fomento da prática desportiva e de ocupação dos tempos livres dos mais jovens em complementaridade com o ensino básico e secundário, bem como, um Centro de Dia para os mais idosos que lhes permita usufruir dos excelentes espaços que o Estádio dispõe e sem paralelo no concelho.
Finalmente, poderiam os aveirenses perspectivar a utilidade daquele espaço e a apetência das actividades económicas para aí se instalarem. O efeito catalisador deste projecto induziria com toda a certeza um desenvolvimento muito mais acelerado daquela vasta área.
Infelizmente, factores completamente alheios ao SC Beira-Mar, têm impedido que o Protocolo se implemente. A crise que entretanto se instalou não permite ter nele os mecanismos de financiamento do projecto que encerra. É preciso ter em conta que o contexto financeiro e económico, em que foi assumido por ambas as partes, alterou-se profundamente.
Importa que a Câmara Municipal de Aveiro e o SC Beira-Mar tenham a sabedoria e o engenho para recuperar e rapidamente implementar a essência daquilo que está protocolado.
Quem fica a ganhar é AVEIRO e os AVEIRENSES! Talvez nunca antes os interesses de uma cidade e do seu clube de referência convergissem tanto. Este é o tempo certo para se agarrar esta oportunidade.

Emídio Martins
(Artigo publicado no Diário de Aveiro no dia 05/06/09)

8 comments:

Rui Almeida disse...

penso que neste caso a crise nada tem a ver.Mas sim um comudismo da camara municipal de aveiro e de algum desinteresse de alguns da mesma para com o futebol,nomeadamente para com o beira mar,em detrimento de outro desporto..propunha uma manifestaçao de socios e adeptos do beira mar,porque parece que os senhores "governantes" nao se sentem precionados,e para verem que o povo de aveiro esta com o beira mar! acho que seria uma manifestaçao,se bem organizada,com uma boa afluencia !

J.N. disse...

aceita parceiria amigo???
www.tormarambaia.zip.net

Pedro Nuno (PN) disse...

A minha posição é clara e conhecida pelas pessoas com quem mais falo deste assunto.
O desejo de organizar a todo e qualquer custo o Euro 2004 fez com que os governantes não olhassem a meios para conseguir o objectivo, neste caso a realização do referido evento. Foi com grande precipitação que o EMA foi erguido sem, diga-se, necessidade alguma. Confesso que ao início também me entusiasmou a ideia de um novo estádio em Aveiro. No entanto logo me apercebi que este complexo iria ser uma “fraude” para o Beira Mar, sócios, adeptos e até Aveirenses em geral: distância do centro da cidade (prejudicial especialmente para aqueles de idade mais avançada), o frio que provoca no Inverno, deficiente organização da MoveAveiro ne transporte de adeptos em dias de jogos e, principalmente, falta de calor humano e pressão (no bom sentido) a adversários e até mesmo a árbitros que existiam no “velhinho”.
Sempre fui apologista do retorno ao antigo Mário Duarte. É lógico que seriam necessárias algumas obras de melhoramento, mas julgo não ser por aí que a ideia não se iria concretizar. Os balneários poderiam ser nos antigos armazéns da CMA, completamente ao abandono, criando um novo túnel de acesso ao campo; as acessibilidades não são más e estacionamento existe em grande quantidade na zona da Universidade que se encontra vazio ao fim de semana. Por outro lado o apoio à equipa iria fazer-se sentir de forma muito mais intensa, não só para o Beira Mar mas também para as equipas visitantes que sentiriam um ambiente hostil.
Com o dinheiro gasto na construção do EMA e sua manutenção bem que podia ser aplicado para a criação de uma academia ou centro de estágio, à semelhança do Feirense ou da Académica de Coimbra.
Em nada o EMA se identifica com o Beira Mar.

Pedro Nuno (PN) disse...

A minha posição é clara e conhecida pelas pessoas com quem mais falo deste assunto.
O desejo de organizar a todo e qualquer custo o Euro 2004 fez com que os governantes não olhassem a meios para conseguir o objectivo, neste caso a realização do referido evento. Foi com grande precipitação que o EMA foi erguido sem, diga-se, necessidade alguma. Confesso que ao início também me entusiasmou a ideia de um novo estádio em Aveiro. No entanto logo me apercebi que este complexo iria ser uma “fraude” para o Beira Mar, sócios, adeptos e até Aveirenses em geral: distância do centro da cidade (prejudicial especialmente para aqueles de idade mais avançada), o frio que provoca no Inverno, deficiente organização da MoveAveiro no transporte de adeptos em dias de jogos e, principalmente, falta de calor humano e pressão (no bom sentido) a adversários e até mesmo a árbitros que existiam no “velhinho”.
Sempre fui apologista do retorno ao antigo Mário Duarte. É lógico que seriam necessárias algumas obras de melhoramento, mas julgo não ser por aí que a ideia não se iria concretizar. Os balneários poderiam ser nos antigos armazéns da CMA, completamente ao abandono, criando um novo túnel de acesso ao campo; as acessibilidades não são más e estacionamento existe em grande quantidade na zona da Universidade que se encontra vazio ao fim de semana. Por outro lado o apoio à equipa iria fazer-se sentir de forma muito mais intensa, não só para o Beira Mar mas também para as equipas visitantes que sentiriam um ambiente hostil.
Com o dinheiro gasto na construção do EMA e sua manutenção bem que podia ser aplicado para a criação de uma academia ou centro de estágio, à semelhança do Feirense ou da Académica de Coimbra.
Em nada o EMA se identifica com o Beira Mar.

O "Limitado" disse...

Há muita gente que por não estar sintonizada com o futebol também ainda não percebeu a importância que esse mesmo futebol tem para uma cidade como Aveiro. Infelizmente parece que a Câmara Municipal de Aveiro faz parte desse lote de desatentos ao fenómeno futebolístico como factor importante para a promoção das cidades e é pena. É muito mais do que um clube desportivo que está em jogo, é uma cidade no seu todo que perde com o seu afastamento dos grandes jogos. Não fará ideia, decerto, a CMA de quantos holandeses já visitaram a cidade e deixaram cá algum do seu dinheiro depois da estadia cá da sua selecção de futebol...Mas eu faço, que já falei com alguns e tive o cuidado de lhes perguntar porque vieram visitar Aveiro.

Anónimo disse...

Estão à espera que a camara resolva este assunto? Podem esperar sentados, se fosse conversa, maravilha, estava tudo resolvido mas se meter um pouco de algebra...nada.
Tudo que requeira massa cinzenta fica na gaveta.
Rui Santos

Anónimo disse...

Nao compreendo como e que podem querer dissociar a debil situaçao do beira-mar da grave crise que afecta a economia mundial. A situaçao financeira da camara de aveiro ficou muito debilitada quando se tomou a decisao de erguer o novo estadio. E por isso, por mais que este executivo gostasse (ou nao) de alterar a situaçao ou de desenvolver o parque desportivo de aveiro, seria impossivel faze-lo sem recursos! Compartilho muitas das ideias que foram enunciadas neste artigo. No entanto, e nao menosprezando quem o escreveu, parece-me que e um texto algo abstracto que expoe de certo modo a situaçao e propoe soluçoes superficiais.As ideias e a forma de combater "a crise do clube" devem partir da direcçao. Mas, penso que ideias mais concisas de como dar a volta ao texto que surjam da massa associativa podem ser importantes, na medida em que podem ser apoiadas pela comissao admnistrativa.

Saudaçoes beiramarenses,

JMC

Aveirense disse...

Está aqui uma amostra da falta de dinamismo e de competência da CM Aveiro. Os anteriores não sabiam fazer contas e deixavam calotes por todo o lado (mas faziam coisas!), estes que lá estão não sabem fazer nada e estão a deixar a cidade (e o clube a quem devem a massa da EMA) a cair a pique. Desgraça!!!