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domingo, 21 de março de 2010

Opinião: Sociedade Anónima para o Futebol?

A possibilidade do SC Beira-Mar constituir uma sociedade anónima desportiva para o futebol profissional tem sido discutida ao longo dos anos. No início da última década, aquando da última alteração dos Estatutos do Clube, essa possibilidade veio mesmo a ser contemplada no Art. 5º, nº 3, tendo sido, inclusivamente, objecto de um estudo económico-financeiro, encomendado à empresa de consultoria Delloite, o qual foi discutido numa Assembleia Geral. Nessa altura, o clube estava financeiramente equilibrado e os sócios recusaram, nesse cenário, a possibilidade de se constituir uma SAD, prosseguindo o futebol profissional segundo os termos do Regime Especial de Gestão previsto para os clubes que participem em competições de natureza profissional.

Contudo, a partir de 2005, o SC Beira-Mar viveu um conjunto de circunstâncias, nomeadamente e com maior relevância, a descida à 2ª divisão da equipa de futebol, a mudança de direcção – que praticou uma gestão menos “prudente” – e o incumprimento da EMA, EM., que provocaram o desequilíbrio financeiro do clube.

Na situação actual, que é do conhecimento público, já não existem “mecenas” disponíveis para financiar a actividade do clube tendo em vista o seu rápido regresso à 1ª liga de futebol, condição fundamental para a sua recuperação financeira. É neste contexto desfavorável que a SAD volta para cima da mesa de discussão. Confessadamente, não como uma opção estratégica, mas como uma (senão mesmo a única) solução para garantir a continuidade do futebol profissional e, por conseguinte, do próprio clube que, dado o agravamento da situação financeira, dificilmente terá viabilidade sem a sua equipa de futebol na 1ª liga.

A situação de vazio directivo que o clube vive desde 2008, altura desde a qual a sua gestão tem sido assegurada precariamente por Comissões Administrativas, não deixa margem para dúvidas quanto ao esgotamento do actual modelo. Manter tudo como está é inviável e o actual elenco directivo, quando assumiu funções, alertou que só as assumiria sob o compromisso, aprovado em Assembleia Geral, de se reestruturar o clube.

Neste quadro, a constituição de uma sociedade anónima para o futebol profissional promoverá o aparecimento de investidores que permitam ao SC Beira-Mar continuar a sua actividade neste sector. Por outro lado, a “separação das águas” – Modalidades Amadoras e Formação Desportiva no Clube e Futebol Profissional na SAD – permitirá ao clube dedicar-se àquele que é, efectivamente, o seu papel social mais relevante e do qual emerge o seu estatuto de instituição de utilidade pública. Quanto à SAD, ao ser participada, na maioria do seu capital, por investidores privados, assume naquela estrutura os riscos inerentes de um negócio cujo retorno é incerto, não colocando em perigo, como hoje acontece, toda a estrutura e património do clube. Acredito, ainda, que a SAD assumirá a gestão do futebol profissional como, nos dias de hoje, se reconhece que é absolutamente essencial, isto é, construindo uma estrutura também ela profissional e, dessa forma, responsável por apresentar resultados, ao contrário do modelo actual em que são dirigentes amadores – têm as suas actividades profissionais próprias e não possuem conhecimentos de gestão desportiva – que superintendem os profissionais de futebol, nomeadamente, as equipas técnicas e os jogadores.
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Ora, o futebol profissional é, actualmente, uma indústria que move milhões, sendo uma actividade económica muito relevante a nível mundial, que garante a subsistência de forma directa ou indirecta de inúmeras famílias. Estamos a falar de um espectáculo desportivo que tem de ser perspectivado como tal, onde o adepto é naturalmente exigente porque paga o seu bilhete para ir ao estádio ou a mensalidade do canal de televisão (pay-per-view) para ver os jogos da sua equipa e respectiva liga em que participa. Também as marcas que perspectivam o futebol como um veículo de promoção (sponsors) exigem credibilidade e qualidade ao espectáculo desportivo. Ora, o nível de exigência das competições profissionais nos dias de hoje não é compatível com o amadorismo e com o voluntarismo. Carece de uma estrutura qualificada e profissionalizada, sem prejuízo do fomento da paixão, que é naturalmente absorvida dos clubes, e que uma gestão cuidada não deve descurar.

Deste modo, a SAD deverá ocupar-se da gestão da equipa profissional de futebol, do seu modelo de desenvolvimento e de todas as componentes que se inserem no espectáculo desportivo e, ainda, no apoio e acompanhamento da Academia de Futebol do Clube, estrutura formadora de potenciais activos da SAD.

Quanto ao Clube, este deverá dedicar-se ao seu escopo social, promovendo a formação e prática desportiva através das suas modalidades, fomentando o seu carácter eclético, prosseguindo uma política de proximidade e interacção com a comunidade, proporcionando-lhe serviços de reconhecida e inegável utilidade.

Neste modelo, teremos duas estruturas que trabalham com o mesmo fim, isto é, a promoção da grande marca comum «Beira-Mar». O clube numa dimensão associativa e a sociedade anónima desportiva numa dimensão empresarial.
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Artigo publicado no jornal O Aveiro
(Edição Março 2010)

11 comments:

Anónimo disse...

Para competir ao mais alto nivel, leia-se, na liga profissional de futebol, a SAD é inevitavel. O problema é saber se existem condições para os investidores, o capital proveniente dos sócios é certamente insuficiente e capital externo só para os que acham que o negócio é rentavel.
Amaral

Nuno disse...

Alem da criação da SAD, inevitável para a salvação do clube nas condições em que se encontra, torna-se necessário também definir que estádio deve utilizar o SCBM. O EMA, como todos sabem, é um sorvedor de dinheiro e ou a câmara apoia e se compromete com a sua manutenção ou entã há que regresar depresa ao velho Mário Duarte. E por que não pensar num estádio novo, para 10.000 espectadores,com relvados sintéticos, campos de treino e pista de atletismo, por exemplo? É demais? os opositores do Marquês de Pombal também pensavam o mesmo. E não necessitamos de fazer tudo de uma vez só. Passamos é a ter objectivos e estratégias para os atingir.
Sei que é futurismo, mas as estratégias de futuro têm de ser pensadas agora. O apoio da CIRA nesta iniciativa, pode ser fundamental e a localização do novo estádio deve ter em conta a residencia dos sócios habituais frequentadores e que sirva a região. Faça-se um referendo entre as várias opções que surgirem...

SOV disse...

Nuno,
depois do que li apenas concluo que a SAD é uma necessidade apenas por dinheiro...
Porque profissionais a gerirem o Beira-Mar, o clube já tem. Redondo, Coelho, Cecilia, etc... Os dirigentes é que são amadores. Mas continuarão a ser. Os directores executivos/geral da SAD é que não.
E como será a estrutura da SAD?

SOV disse...

NQM,
sinto que a necessidade de criação de uma SAD, é meramente finaceira. E sendo assim, não posso concordar com a SAD no meu clube.

Abraço

Nuno Q. Martins disse...

SOV,

Julgo que fui explícito quando refiro no texto que "a constituição de uma sociedade anónima para o futebol profissional promoverá o aparecimento de investidores que permitam ao SC Beira-Mar continuar a sua actividade neste sector. Por outro lado, a “separação das águas” – Modalidades Amadoras e Formação Desportiva no Clube e Futebol Profissional na SAD – permitirá ao clube dedicar-se àquele que é, efectivamente, o seu papel social mais relevante e do qual emerge o seu estatuto de instituição de utilidade pública". Na minha opinião, a SAD é importante nestas duas dimensões. A questão dos investidores é fundamental, pois no actual modelo e com penhoras sobre o património do clube, ninguém está disponível para investir no Beira-Mar. A SAD abre uma perspectiva aos potenciais investidores de transformarem o dinheiro que investem em participação social.

Quanto à segunda pergunta, relativa à estrutura da SAD, não te sei responder, pois dependerá exclusivamente da Assembleia Geral e do Conselho de Administração da SAD.

Um abraço.

Nuno Q. Martins disse...

SOV,

É legítimo que os sócios não queiram que o clube participe numa SAD para o futebol, como também é legítimo que se defendam diferentes níveis de participação.
Só não posso concordar é com posições baseadas em "sensações" e, muito menos, posições que não apresentem alternativas consistentes.

Felizmente, as coisas parecem bem encaminhadas para a subida à 1ª liga (oxalá!) e admito que haja quem defenda que consegue gerir o clube nessas condições. No entanto, quem assumir tal posição que se assuma como solução directiva e submeta ao sufrágio dos sócios um plano de gestão do clube para os próximos anos e um plano de contingência para o caso do Beira-Mar voltar a descer à 2ª liga.

No fundo, independentemente da posição que cada associado tome sobre esta matéria, o meu apelo é que seja uma posição informada, esclarecida e responsável.

Um abraço.

Nuno disse...

Caro SOV (?),
Quem quiser dirigir o clube, sem futebol profissional, terá de se candidatar e apresentar o seu programa. Não são os funcionários, por bons profissionais que devam ser, que vão gerir o clube. Talvez por isso acontecer com demasiada frequência, é que não são tomadas as medidas certas pelos "demissionários" dirigentes que por vezes passam pelo clube.
À semelhança da SAD, também o clube deverá ter uma gestão mais profissionalizada e definir objectivos para todos os sectores. Só a AG poderá aprovar o que fazer, os funcionários, profissionais ao serviço do clube, estarã lá para executar o que lhes é solicitado. Os dirigentes irão a votos...
Caro SOV, o futuro dos funcionários profissionais não está em causa. Em causa está o futuro do clube e sem SAD, acredite, não haverá clube nem funcionários, por muito profissionais que sejam.

Anónimo disse...

Parece que na actual situação temos duas alternativas: SAD ou acabar com o desporto profissional.
Tambem sou contra as SAds apenas para resolver a situação, mas entre acabar com a equipa profissional de futebol e correr algum risco, sou a favor do risco.

Anónimo disse...

RIBAU ESTEVES A PRESIDENTE.
EQUIPA SATÉLITE, O GAFANHA.
COMPLEXO DESPORTIVO:
NOVO E COM SINTÉTICOS.
COM SAD OU COM DIRECÇÃO O BEIRA ACABA?
NÃO!!!!!!!!!!

Daniel disse...

Pois é bom que se aproveitem os tempos que aí estão para vir para os Sócios serem esclarecidos... é que ainda vejo muita confusão em muitas cabeças e não me estou a excluir.

Na Assembleia Geral em que se decidirá se vai haver SAD ou não, será de uma grande irresponsabilidade dos sócios rejeitarem a SAD sem haver quem pegue no leme no formato actual; pelo que temos visto nos ultimos 2 anos, no formato actual ninguém pega no Beira-Mar.

Nuno, a secção deste post que colocaste a bold é também para mim o que tem de ser realçado e decidido. Pelo teu texto dá a impressão que já sabes que a maioria do capital estará à disposição dos privados e consequentemente serão estes a ter o controlo do clube, é assim?

Se assim for (espero que seja porque só assim imagino alguém interessado em investir no Beira-Mar), é bom que os Sócios tenham noção de que as decisões de se voltar ao estádio antigo ou não, a cor do equipamentos, quem entra e quem sai da equipa, que treinador é que é contratado e tudo o mais, serão actos de gestão da Beira-Mar SAD; quem gosta continua a comprar o produto futebol que esta SAD disponibiliza e quem não gosta não compra. Agora pensar que se pode corrigir isso com eleições passados 3 ou 4 anos, esqueça isso. Isso só será possivel se for o SC Beira-Mar a deter a maioria do capital (a semelhança das SADs do SCP, FCP e SLB), mas nesse caso não estou a ver os poucos interessados no Beira-Mar com capacidade financeira, a investir forte no clube.

É bom que o chavão de que o Futebol é um negócio seja enraizado pelos sócios, porque só o encarando assim é que o clube pode sobreviver, recuperar a saude perdida, crescer e consolidar-se como simbolo da nossa cidade.

Até lá, vamos unir-nos à equipa e bater o Freamunde este fim de semana. Força Beira!

Nuno Q. Martins disse...

Daniel,

Obrigado pelo teu contributo.

Relativamente à questão da participação social do clube na SAD, o Regime Jurídico das SAD já estabelece como limite máximo 40%. O que aconteceu noutros clubes/SADs foi a criação de outras empresas (por ex: Sociedades Gestoras de Participações Sociais) ou parcerias estratégicas com as respectivas autarquias, no sentido das direcções dos clubes continuarem a deter o controlo absoluto das SAD por via indirecta, ou seja: 40 % (máximo legal correspondentes a Acções do Tipo A) + 11% (pelo menos, correspondentes a Acções do Tipo B).

Um esclarecimento que me parece ser útil:
As acções de tipo A são aquelas que são detidas pelo clube e que não podem exceder os já referidos 40%. Estas acções conferem ao clube um conjunto de direitos especiais do clube-fundador na SAD, nomeadamente, a faculdade de nomear 1 ou 2 administradores, "vetar" aumentos de capital, mudanças de estatutos ou localização da sede social da SAD. No pacto social, o clube pode salvaguardar outros direitos especiais para além destes que a lei confere. As restantes são acções são do tipo B, ou seja, não congregam quaisquer direitos especiais.

A questão que referes relativamente ao aparecimento de investidores parece-me óbvia. Não creio que algum investidor esteja disponível para arriscar o seu dinheiro e fazer depender a sua gestão da vontade de terceiros.

Agora o que me parece ainda mais óbvio, é que actualmente os sócios já não mandam nada quanto à gestão do clube. Quem assume os destinos directivos do clube pratica a gestão que entende praticar, faz as parcerias que entende fazer, endivida-se como quer e depois ainda penhora o património do clube! E nós, sócios, vemos o património do clube delapidar-se e a sua actividade toda em causa por conta dos riscos que uma direcção decidiu correr. Numa época tivémos 4 e noutra 3 treinadores. Chegámos a jogar quase uma época com as cores do Vaticano... Tudo isto aconteceu sem que nós, sócios, tivéssemos qualquer interferência. Mais, foi-nos dito que só representávamos 3% do orçamento do clube e, por isso, não mandávamos nada.

As ilações são fáceis de tirar. Os recursos que o futebol absorve são imensos e o clube não tem capacidade, actualmente, de os gerar. O passivo acumulado constitui um sério entrave ao desenvolvimento do clube, dificultando o seu papel social enquanto instituição de promoção e formação desportiva.

No presente, temos uma época para terminar e existem compromissos financeiros que é preciso cumprir. No futuro, não quero voltar a ver o património e a actividade do clube em causa por causa dos riscos inerentes à indústria do futebol, nem quero que o Beira-Mar dependa de dirigentes "mecenas".

Um abraço.