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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Pilhagem


Seria ótimo sentir vontade de escrever sobre o Beira-Mar por algum bom motivo que me fizesse refletir e partilhar pensamentos por aqui. Mas não é o caso. A motivação para escrever sobre a vida do clube é nenhuma. É com tristeza que constato que só me manifesto por mero imperativo de consciência. Por mais voltas que dê, não consigo silenciar-me perante a pilhagem que que tem sido feita ao clube.

Sobre a perda da propriedade do pavilhão já muito disse e escrevi. Não me repetirei. No entanto, não posso deixar de me referir sobre dois “momentos-chave” que determinaram a situação que hoje se conhece.

O primeiro, desde logo, no momento de constituição da SAD. A direção do clube fez tábua rasa dos alertas que, em tempo útil, lhe foram dirigidos por alguns sócios e não salvaguardou, ao contrário do que garantira, a manutenção do pavilhão na esfera do clube (nem a propriedade, nem a posse). Num segundo momento, não menos decisivo, decidiu a direção do clube não comparecer à diligência de venda do pavilhão no Juízo de Execução de Ovar, permitindo assim, sem mais, que a propriedade do pavilhão fosse adjudicada aos ex-dirigentes (Artur Filipe e José Cachide), credores do clube.

Nas duas oportunidades que teve para conseguir encontrar soluções e salvar o pavilhão, a direção do Beira-Mar falhou redondamente. Na primeira, não salvaguardou juridicamente o que garantiu aos sócios que estava salvaguardado e, na segunda, nem sequer permitiu a intervenção de sócios e amigos do clube que pudessem ajudar a resolver o problema. Enfim, uma atuação desajeitada, incompetente e irresponsável que não posso deixar de lamentar e denunciar.

Posto tudo isto, chegados a 31 de Julho de 2012, depois da primeira ameaça de despejo em Fevereiro, eis que são entregues as chaves do pavilhão aos seus proprietários, os ex-dirigentes Artur Filipe e José Cachide, os quais já tinham entretanto negociado o pavilhão com um terceiro. Seguiu-se o período de incógnita sobre o futuro das modalidades, com reuniões na Câmara, a desistência da equipa sénior de futsal de participar nos nacionais, o estabelecimento de contactos com outros clubes para a utilização dos seus pavilhões, etc. Entretanto, é efetuada a escritura que transmite a propriedade do pavilhão dos ex-dirigentes para o “investidor” luso-americano e a direção do Beira-Mar chega a acordo com o novel proprietário no sentido deste permitir ao clube a utilização do pavilhão por mais uma época desportiva, em troco do pagamento duma renda mensal que, consta-se, será de dois mil euros! Para cúmulo, e não obstante assumir o pagamento duma renda ao novo proprietário, a direção do clube aceita o alegado pedido do advogado do proprietário para não permitir que os UAN fiquem no “seu” espaço no pavilhão.

Muito gostaria aqui de ressalvar o papel que os UAN têm desempenhado na vida do clube e o passo importante que foi dado aquando da instalação dos UAN junto das modalidades, naquele pavilhão. No entanto, já percebi que não vale a pena gastar palavras para explicar algo que a cegueira dos dirigentes do clube não permite ver. Têm sido asneiras em cima de asneiras das quais dificilmente o clube algum dia recuperará. E nem vale a pena confrontar as pessoas com a realidade que irresponsavelmente construíram, pois a armadura para esconder todas as asneiras cometidas é e serão sempre os erros das anteriores gestões.

O facto é que o clube está completamente partido. Cada secção tenta sobreviver como pode e a preocupação da direção é única e simplesmente salvar a sua própria face das sucessivas asneiras que tem cometido. Já não há uma ideia de clube, uma linha estratégica de salvação, nem um propósito que una as pessoas. É cada um por si, na defesa da sua “quinta”. Será que, dentro do clube, ainda ninguém conseguiu perceber isto? Será que a cegueira e a vaidade são tantas que as pessoas não conseguem perceber que andam feitas tontas, dum lado para o outro, sem prosseguir um objetivo que seja comum?

Sinto uma profunda tristeza por ver o estado a que o Beira-Mar chegou. Mas, verdade seja dita, não é apenas a direção que tem responsabilidades. As mesmas têm que ser partilhadas com os membros dos órgãos sociais do clube que, levianamente, não se assumem nem tomam posições, caucionando com o seu silêncio o caminho que tem sido seguido. Limitam-se a “estar” para receberem uns convites para os camarotes e preencherem os respetivos “currículos sociais”. Fica socialmente bem ser qualquer coisa no Beira-Mar, mas ninguém está para se chatear, mesmo que ao lado alguém esteja a pilhar o clube como “senão houvesse amanhã”.

E não é preciso ir mais longe. Basta constatar o que se passa na SAD. “Profissionalizou-se” o amadorismo e, numa conjuntura económica adversa, até se aumentaram alguns salários. Os interesses de uns quantos mercenários aliaram-se aos interesses de alguns empresários e afins. Não chegavam os avultados salários de alguns, e ainda se controlam umas comissões em tudo o que mexe. Tudo isto é do conhecimento de quem está um pouco mais atento e conhece minimamente o meio, mas note-se como aparentemente passa tudo ao lado da direção e dos seus administradores. Porque será? Mera ingenuidade/incompetência ou cumplicidade/envolvimento neste processo de pilhagem? Quem souber, que responda.

O Beira-Mar está em sérias dificuldades e, em vez de as pessoas se unirem em torno da salvação do clube, promovendo a união dos sócios, pais, atletas, seccionistas, treinadores em torno duma estratégia concreta, da qual possam emergir soluções, para devolver ao clube a dignidade e o projeto de futuro que merece, os episódios que continuo a assistir reforçam a minha convicção que, em torno do clube, montou-se uma teia de interesses pessoais (seja a nível de protagonismo, seja mesmo a nível patrimonial) que dificilmente permitirá aos Beiramarenses (uma espécie em vias de extinção!), aqueles que apaixonada e desinteressadamente se têm dedicado ao clube, assumir qualquer intervenção.

E não, não estou a defender aqui que a direção que se auto-intitulou capaz de resolver os problemas do clube se deve demitir. Antes pelo contrário. Deve mostrar inteligência e assumir, com a frontalidade e a clareza que se exigem aos homens com caráter, os erros cometidos e rapidamente socorrer-se dos sócios e das pessoas que podem ajudar o clube, em vez de prosseguirem um rumo de definhamento que está a conduzir o clube à sua auto-destruição. A menos que integrem a teia de interesses que referi… o que preferia por agora não acreditar.

Como sócio, acho que o pior sentimento que podia nutrir, é precisamente o atual. Sinto que cada quota que pague ao clube é um humilde contributo para se perpetuarem as asneiras, alimentar certos interesses e dificultar ainda mais a desejada recuperação do clube. Sinto que só quando não houver dinheiro e protagonismo para ninguém, o clube regressará às suas origens. E sentir isto, depois de tantas coisas boas que já vivi e senti em torno do Beira-Mar, é mesmo muito, muito, muito triste.

16 comments:

Raúl Marques disse...

Dr Nuno,, isto é chover no molhado; o mesmo se passou com a venda das piscinas e já poucos se lembram - os Caxide e Filipe geriram mal, quiseram o dinheiro e quem ficou com a batata quente é que se vê nelas; por favor nas próximas eleições forme uma lista ou integre outra para ajudar a dar uma volta nisto.

André Raio disse...

Nuno, numa altura em que tu e muitos outros verdadeiros beiramarenses vibravam em torno das modalidades/futebol profissional, já à muito as piscinas se queixavam. Não compreendo e, sobretudo, não aceito a tua opinião. Obviamente que existem mercenários, obviamente que existem apaixonados, obviamente que cada um faz o que quer e lhe apetece quando tem o poder nas mãos. Mas o clube continua, bem ou mal. Facto é que o clube nunca esteve como está, obra destas e de muitas outras mãos que já passaram pelo clube. Choca-me é que pessoas como tu, prefiram virar as costas ao clube só porque se sentem amarguradas. Não me importa se o clube ao nível do futebol está na distrital aliás, preferia. Não me importa se o meu clube não tem representação ao nível nacional nas outras modalidades. Importa é o clube continuar a existir e formar muitos e grandes atletas. Pagar as quotas, que eu saiba, é para "ajudar" o clube (independentemente se 90% ou 50% são para o árabe)e, a longo-prazo, caso corra tudo bem, a direcção passa, ficamos nós e o clube.
É um mero desabafo, continuo a ter-te como exemplo.

Grande abraço.

Anónimo disse...

Ha uma coisa que nunca poderão pilhar. O amor que muitos ainda sentem por este clube.

Anónimo disse...

de certeza que com a paixao,dedicaçao que este HOMEM tem, nao deixava as coisas chegar a este ponto .nos socios sabia que tinha mos uma estrategia de sair do fundo, candidata te que tens o meu voto...

Meira disse...

O meu estado de espírito é semelhante. Não dá para expressar tamanha tristeza...

Anónimo disse...

Caro Raul.

A venda das piscinas foi o principio do fim...e que as vendeu não foram os que enunciou, mas sim o Mano Nunes!

É só para as pessoas se lembrarem que quem deu o pontapé na dita batata que menciona!

Portanto, voltando a trás, tem aí o primeiro (e quiça principal) empulsionador da desgraça em que caiu o clube!

Fica a correcção!

Anónimo disse...

Nuno,
O seu artigo tocou-me fortemente pelas razões que refere e das quais estou plenamente de acordo.Quem vive intensamente o nosso Beira Mar, não pode ficar indiferente perante o abuso de poder, má fé , a mentira,a vaidade e o desprezo por quem tem contribuído para o Bom Nome do Clube.Acompanho há muito tempo o seu trabalho em prol da Coletividade.O que tem acontecido até aqui? Desrespeito, ingratidão, falta de coragem de todo o staff diretivo para se encontrarem soluções para a salvação do Clube. Não falta da sua parte preocupação de envolver todos os Beiramenses para a resolução do gravíssimo problema que o Clube atravessa, apelando sempre à união de todos .Será pelo facto do Nuno
recusar qualquer tipo de protagonismo?

Nuno Q. Martins disse...

Agradeço os vossos comentários e prometo que quando tiver mais tempo responderei aos mesmos.

Raúl Marques disse...

Anónimo das 01:38 por favor não mecorrija pq eu sei quem vendeu as piscinas e o Dr Nuno tb uma vez que o su pai estava na gestão do clube.
O que quis relevar é que o Dr Nuno deu de barato a venda das piscinas - valia algum dinheiro - e agora está muito preocupado com o requentadopavilhão e UAN.
Só quero ver o Dr Nuno na Direção do BM- Clube e aboir estas situações e olocar o BM no top como merece.

Nuno Q. Martins disse...

Senhor "Raul Marques"

Como em tudo na vida, para existir uma determinada situação no "presente", é porque houve um "passado". Todas as gestões (uso esta designação para abranger direções e comissões administrativas) do clube cometeram erros. Uns mais compreensíveis do que os outros. Insistir em confundir o contexto da venda das piscinas com a gestão nos exercícios de 2005 a 2008 e com o processo de constituição da SAD é um acto que revela um profundo desconhecimento de causa, ou então, pura má-fé.

André Raio,

Agradeço-te as palavras simpáticas que me dirigiste. Também tu és um exemplo de Beiramarismo apaixonado e desinteressado. Compreendo perfeitamente a mensagem que me queres passar, mas pensa bem que clube temos hoje. Independentemente da representatividade nos nacionais ou nos distritais, a essência do clube - pelo menos, na minha perspetiva associativa - está nos seus sócios. No propósito de congregar os associados em torno de objetivos comuns. É este o espírito que devia ser cultivado no clube, principalmente de "dentro para fora". O que temos é precisamente o contrário. Um clube que afasta as pessoas e mal trata aqueles que o amam e que o defendem. Desculpa-me mas este não é o "meu" Beira-Mar. Isto é outra coisa.
Naturalmente que tenho a expetativa que um dia o Beira-Mar recupere desta agonia e, pelo menos ao nível dos valores e da ética regresse às suas origens. Se tivesse virado as costas, nem sequer escrevia estes artigos, nem continuava a apoiar, ainda que sem visibilidade, algumas pessoas que colaboram com o clube.
A minha posição é isso mesmo. É uma tomada de posição que tem por objetivo despertar consciências. Talvez seja ineficaz e a mensagem não influencie nenhum dos destinatários, mas pelo menos a minha consciência fica tranquila. Faço o que entendo que devo fazer.

Anónimo das 23:34

Fico naturalmente lisonjeado com a manifestação de confiança, mas este texto que escrevi não é nenhum anúncio de qualquer candidatura. É um desabafo de alguém que só queria ver o clube no bom caminho, independentemente de quem o governa. Gostava eu de poder elogiar e ter admiração pela direção do meu clube. Lamentavelmente, tenho vergonha.

Anónimo da 01:38

É uma grande injustiça o que afirmou. Se não sabe o que o Eng.º Mano Nunes fez pelo Beira-Mar, evite proferir comentários como o que fez. Efetivamente a venda das piscinas ocorreu quando o Eng.º Mano Nunes presidiu à CA, entre 2008 e 2009, mas referir que esse momento foi o impulsionador da crise do clube é, simultaneamente, um erro grave de análise e uma ofensa a uma figura que merece o respeito dos Beiramarenses.

Anónimo das 14:48

Muito gostaria eu de ajudar o Beira-Mar a, citando as suas palavras "colocar o BM no top como merece". Mas temos que ser realistas. A atual direção hipotecou o clube a uma SAD que está privada das suas principais receitas em favor dum investidor que afinal não investe. Como compreenderá, por mais vontade, voluntarismo e ideias que qualquer sócio possa ter, a superação da situação do clube já não depende exclusivamente de nós.

Anónimo disse...

vejam lá se metem gasoleo no tocarro dos juniores pá!

Pedro Nuno Marques disse...

Pois bem, a tua ideia opinativa é partilhada por mim, na sua plenitude. A forma como Clube se vem vindo a descaracterizar é por demais evidente, com tendência a agravar-se. A situação do pavilhão, sem fim à vista, é algo que não se resolve com sucessivas soluções levianas que provocam adiamentos que, somente, agonizam cada vez mais esta situação. Não é com adiamentos que lá vamos. É necessário um pulso forte, um murro na mesa, um berro (se for preciso). Chega de atitudes mansas. A renda a pagar é alta (fora água, luz e gás), sendo que no final do ano desportivo (se tanto) o problema tende a repetir-se.

A “facada” dada aos UAN é a constatação que tudo é resolvido de forma leviana e banal, sem ninguém se preocupar com a massa adepta Beiramerense. Têm a minha completa solidariedade. Há coisas que não me entram não cabeça. Não compreendo esta má- vontade, porque ela existe! Mais cómico e revoltante (acho que fui o único que reparei) foi o comunicado ao intervalo do jogo com o Moreirense, onde se agradeceu de forma grandiosa (só falta um “Vivas!”) ao Presidente da CMA pelo processo que vai permitir ao Beira-Mar usar (ALUGAR) o pavilhão, que em outrora já foi do Beira-Mar, imagine-se! Para quando alguém que eleve a voz e coloque a questão do incumprimento. Não é uma questão de causar atritos, PELO CONTRÁRIO! É uma forma de perceber o ponto da situação, de pressionar quem prometeu cumprir e de voltar a unir os sócios. Como alguém dizia, e bem, falta ao Beira-Mar uma massa crítica, para que o Clube volte a ser como sempre o conheci, desde a minha tenra infância.

Infelizmente, como refere o Nuno: estamos perante uma “Feira das Vaidades”, onde as pessoas se dão ao luxo de aumentar, de forma choruda, os próprios ordenados, de ir para os camarotes “sociais” em dia de jogos (enquanto os UAN estão na torreira do sol da Nascente), de evitar fomentar a Loja Amarela on-line e poder vender material, sobretudo para a Ásia, porque simplesmente dá trabalho e de espetar a tanga a quem quer comprar a camisola do Beira-Mar dizendo que estão esgotadas porque os “emigrantes que cá vieram em Agosto esgotaram o stock” (sim, isto é verdade!)

Parafraseando Sá Carneiro: “(…) pôr a sinceridade das posições acima dos interesses pessoais!”

Anónimo disse...

Alguns tem memoria curta..Podem chamar o que quiserem ao cachide e ao filipe, mas quando la chegaram o nosso beira mar ja estava nas lonas. E a culpa de certeza que nao foi dos socios.

Raúl Marques disse...

O Sr Pedro Nuno está disponível para participar numa nova Direção? Vejo que tem boas ideias e vontade de trabalhar;
Não se preocupe com o lugar na Nascente ocupado pelos UAN dado que esse lugar é superior ao de trás da baliza e em Portugal na época de futebol poucos dias tem Sol escaldante e lá no cimo há boas sombras e não é nada que com uns bons litros de água do Luso/Sagres a coisa não se resolva e até é uma boa opção: trocar a praia pela bola.
Quanto ao Dr Carneiro, conheceu-o?,0 homem está morto e enterrado, se ainda cá estivesse era como os outros e o Sr estaria a lembrar-nos um tal Sebastião.
Bem-haja e candidate-se

Paulo Marques disse...

Desculpem o off topic,mas acabei de ler no Diario de Aveiro que saiu de manha,que fomos despromovidos a 2 Distrital de Futsal??!!Porque?!!

Anónimo disse...

ó Rauuuuuuulle..... ó Rauuuuuuuuuuullllee... raullllle....