terça-feira, 7 de março de 2006
"Histórias de árbitros"
Os campeonatos do Inatel disputavam-se entre equipas de trabalhadores entusiastas da bola mas nem sempre predestinados da arte do bem jogar e os árbitros desses jogos enquadravam-se na perfeição nos mesmos limites. Eram normalmente antigos juízes federados com o vício ainda insaciado ou rapaziada bem intencionada no que respeita à merendola oferecida a seguir ao jogo. Quanto a competência, estamos conversados...
Um dia - o episódio passa-se em 1980 - disputava-se uma dessas animadas partidas algures ali para os lados da Bairrada. Partida mesmo tão animada que às tantas deu barraca: um defesa da equipa forasteira entrando de carrinho sobre um adversário atinge-o em cheio na canela. Entrada perigosa, mais fruto até da falta de jeito do que de qualquer intenção violenta era, não obstante, passível de sanção técnica e disciplinar.
O árbitro, longe do local do acontecimento, veio devagar, calmamente, demorou a chegar e quando chegou fez ainda um compasso de espera no meio da turbulência que entretanto se gerara em volta dos protagonistas do lance. Parecia perfeitamente seguro de si e da complicada situação. Irradiava maturidade, auto-confiança, certeza...
Quando finalmente se decidiu, assinalada a falta técnica, dirigiu-se de braço estendido ao nº 5 - colega do faltoso - e deu-lhe ordem de expulsão. A coisa estrepitou. Que não tinha sido ele, protestava o inocente e reclamavam os colegas... Palavra puxa palavra, sai mais uma ordem de expulsão, agora para o nº 7.
Aumenta a contestação em redor do juiz, vernáculo até dizer chega, uns empurrõezitos até, eis que o nosso árbitro dá dois passos atrás, percorre visualmente os de camisola preta, fixa o olhar pisco no médio direito e lá sai mais uma expulsão. Categórica e decidida, aquele é que tinha sido!...
Mas não, raio d'azar, não tinha sido aquele, o verdadeiro mantinha-se incólume, um bocado mais atrás e caladinho que nem um rato, não fosse o homem acertar...
Muita baralhada depois, o bico d'obra resolveu-se: o capitão de equipa revelava ao juiz quem tinha sido o faltoso, admoestava-se o prevaricador e não havia expulsão p'ra ninguém...
Proposta honesta, proposta aceite... mas os da casa não lhe acharam graça, o caso complicou-se e a borrasca pressentia-se...
Um golito fora de jogo, providencial, a dar a vitória aos anfitriões fez acalmar os ânimos e terá, porventura, salvo as costas ao árbitro.
Naquele dia não houve lanche de confraternização...
Narciso Cruz
Publicado por
Nuno Q. Martins
00:30
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terça-feira, 7 de março de 2006
às00:30
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