quinta-feira, 6 de julho de 2006
Para lá do Mundial...
Depois de uma fase de qualificação meritória, a selecção portuguesa de futebol alcançou as meias-finais deste “Mundial ´06”. Este feito, ganha maior relevância social num país pequeno que já não via a sua selecção atingir um patamar tão elevado desde 1966… há 40 anos!
Ontem, diante da França, percebi que aquele jogo era o concretizar de um sonho de duas gerações, a dos meus avós e a dos meus pais. Eles assistiram ao desempenho dos “magriços” de 66, sentiram a “injustiça” daquela eliminação frente à equipa da casa, a Inglaterra, que até o local do jogo alterou obrigando a comitiva portuguesa a viajar de comboio para Londres na véspera do jogo. Desse Mundial, ficou o sonho… O sonho de um dia chegar onde os “magriços” chegaram mas não parar por aí. Ir mais além. Alcançar uma final e, até quem sabe, vencê-la.
Quarenta anos volvidos, o sonho esteve à beira de se concretizar. Um jogo inglório e um momento decisivo… o penalty que Zidane concretizou e que Ricardo quase defendia.
Tal como tinha acontecido no Euro 2000, Portugal vergava aos pés da França num penalty infeliz.
Mas este jogo não foi igual. Ao contrário do tal jogo de 2000 em que a França, que tinha uma “super-equipa” que se tinha sagrado campeã do mundo dois anos antes (1998), dominou e foi superior nos noventa minutos e no prolongamento, no jogo de ontem Portugal dominou a maior parte do jogo e teve as melhores oportunidades de golo. Do lado francês, estavam lá alguns desses jogadores da “super-equipa” de 98 e 2000 e outros, mais recentes, que nada ficam a dever aos seus antecessores. A grande diferença esteve mesmo na capacidade da equipa portuguesa que remeteu a tal “super-equipa” francesa ao seu meio-campo durante toda a segunda parte. Os franceses sofreram muito… mais do que tinham sofrido diante do Brasil, o próprio seleccionador gaulês assim reconheceu.
Portugal perdeu mas fiquei com uma certeza. Nos próximos anos, nas próximas competições, o nome de Portugal figurará entre os “candidatos”. O percurso recente da selecção – meia-final no Euro 2000 e final no Euro 2004 e meia final neste Mundial – (exceptuando o Mundial da Coreia-Japão em 2002 que encaro como um acidente de percurso da responsabilidade do seleccionador da altura, António Oliveira), a qualidade dos sucessores da geração de Vítor Baía, Fernando Couto, Jorge Costa, Paulo Sousa, Figo, Rui Costa, João Pinto e outros, a própria evolução do conceito de selecção, agora “clube Portugal” – principal contributo de Scolari, na minha opinião –, os bons resultados das selecções jovens portuguesas desde o início da década de 90 e que se mantêm, são razões q.b. para fundamentar esta convicção.
Mas eu quero, também, acreditar noutros factores. Alguns deles que já se revelam na actualidade. Vejamos a melhoria competitiva do campeonato português, as excelentes performances de algumas equipas portuguesas nas competições europeias: Boavista na meia-final da Taça Uefa em 2003, FC Porto vencedor da Taça Uefa nesse mesmo ano, FC Porto vencedor da Liga dos Campeões no ano seguinte, Sporting finalista da Taça Uefa e FC Porto campeão inter-continental em 2005, o Benfica com uma prestação meritória na Liga dos Campeões na época passada, só parado pelo actual campeão europeu Barcelona. A estes sucessos dos clubes portugueses, vemos jogadores portugueses a afirmarem-se como referências nos melhores clubes europeus, temos alguns dos treinadores mais conceituados da actualidade, casos de José Mourinho, Carlos Queirós e até Manuel José com um palmarés impressionante no futebol asiático.
Portugal é um país cada vez mais apaixonado pelo futebol. O jogador português, portador da capacidade técnica geralmente associada ao jogador sul-americano, surge agora mais completo. Um tipo de jogador que congrega capacidade física, disciplina táctica e concentração competitiva aliada à sua natural aptidão técnica. Estes méritos ficam a dever-se, como é óbvio, à melhoria das condições de treino que os clubes e as escolas de futebol proporcionam aos seus formandos e à experiência internacional que a participação em competições entre selecções jovens ao mais alto nível possibilita. A presença de jogadores e treinadores portugueses nos melhores clubes do mundo constitui uma alavanca fundamental para o futebol português ao nível da concepção de jogo e de treino.
Sem falsas euforias, Portugal está na moda no que ao futebol diz respeito. O “jogador português” é apreciado mundialmente. Ao contrário do que alguns teóricos afirmam, a exportação dos nossos melhores valores pode contribuir, como aliás já contribui, para a melhoria gradual do futebol português. O caminho passa, efectivamente, pela exportação (pois outro modelo não é sustentável) e pelo investimento desses proveitos na boa formação de novos atletas e novos técnicos.
O futebol profissional é uma indústria que alimenta muitas famílias e sectores de actividade. Portugal, um país carenciado de sectores produtivos que sejam competitivos internacionalmente, tem no futebol não um “escape” mas uma oportunidade de sucesso. No entanto, como em qualquer outra actividade, o sucesso não depende apenas da matéria-prima e da criatividade de quem a trabalha. Bons gestores precisam-se.
Quando o jogo de ontem acabou, disse para o meu avô: - “Demorámos 40 anos para repetir a proeza mas daqui a quatro anos estaremos na África do Sul a perseguir novamente o sonho! Nada será como antes…”. O meu avô respondeu-me: - “Pois, mas provavelmente, já não estarei cá para ver…”.
O sucesso, tal como o ser humano, é efémero… - pensei eu.
Ontem, diante da França, percebi que aquele jogo era o concretizar de um sonho de duas gerações, a dos meus avós e a dos meus pais. Eles assistiram ao desempenho dos “magriços” de 66, sentiram a “injustiça” daquela eliminação frente à equipa da casa, a Inglaterra, que até o local do jogo alterou obrigando a comitiva portuguesa a viajar de comboio para Londres na véspera do jogo. Desse Mundial, ficou o sonho… O sonho de um dia chegar onde os “magriços” chegaram mas não parar por aí. Ir mais além. Alcançar uma final e, até quem sabe, vencê-la.
Quarenta anos volvidos, o sonho esteve à beira de se concretizar. Um jogo inglório e um momento decisivo… o penalty que Zidane concretizou e que Ricardo quase defendia.
Tal como tinha acontecido no Euro 2000, Portugal vergava aos pés da França num penalty infeliz.
Mas este jogo não foi igual. Ao contrário do tal jogo de 2000 em que a França, que tinha uma “super-equipa” que se tinha sagrado campeã do mundo dois anos antes (1998), dominou e foi superior nos noventa minutos e no prolongamento, no jogo de ontem Portugal dominou a maior parte do jogo e teve as melhores oportunidades de golo. Do lado francês, estavam lá alguns desses jogadores da “super-equipa” de 98 e 2000 e outros, mais recentes, que nada ficam a dever aos seus antecessores. A grande diferença esteve mesmo na capacidade da equipa portuguesa que remeteu a tal “super-equipa” francesa ao seu meio-campo durante toda a segunda parte. Os franceses sofreram muito… mais do que tinham sofrido diante do Brasil, o próprio seleccionador gaulês assim reconheceu.
Portugal perdeu mas fiquei com uma certeza. Nos próximos anos, nas próximas competições, o nome de Portugal figurará entre os “candidatos”. O percurso recente da selecção – meia-final no Euro 2000 e final no Euro 2004 e meia final neste Mundial – (exceptuando o Mundial da Coreia-Japão em 2002 que encaro como um acidente de percurso da responsabilidade do seleccionador da altura, António Oliveira), a qualidade dos sucessores da geração de Vítor Baía, Fernando Couto, Jorge Costa, Paulo Sousa, Figo, Rui Costa, João Pinto e outros, a própria evolução do conceito de selecção, agora “clube Portugal” – principal contributo de Scolari, na minha opinião –, os bons resultados das selecções jovens portuguesas desde o início da década de 90 e que se mantêm, são razões q.b. para fundamentar esta convicção.
Mas eu quero, também, acreditar noutros factores. Alguns deles que já se revelam na actualidade. Vejamos a melhoria competitiva do campeonato português, as excelentes performances de algumas equipas portuguesas nas competições europeias: Boavista na meia-final da Taça Uefa em 2003, FC Porto vencedor da Taça Uefa nesse mesmo ano, FC Porto vencedor da Liga dos Campeões no ano seguinte, Sporting finalista da Taça Uefa e FC Porto campeão inter-continental em 2005, o Benfica com uma prestação meritória na Liga dos Campeões na época passada, só parado pelo actual campeão europeu Barcelona. A estes sucessos dos clubes portugueses, vemos jogadores portugueses a afirmarem-se como referências nos melhores clubes europeus, temos alguns dos treinadores mais conceituados da actualidade, casos de José Mourinho, Carlos Queirós e até Manuel José com um palmarés impressionante no futebol asiático.
Portugal é um país cada vez mais apaixonado pelo futebol. O jogador português, portador da capacidade técnica geralmente associada ao jogador sul-americano, surge agora mais completo. Um tipo de jogador que congrega capacidade física, disciplina táctica e concentração competitiva aliada à sua natural aptidão técnica. Estes méritos ficam a dever-se, como é óbvio, à melhoria das condições de treino que os clubes e as escolas de futebol proporcionam aos seus formandos e à experiência internacional que a participação em competições entre selecções jovens ao mais alto nível possibilita. A presença de jogadores e treinadores portugueses nos melhores clubes do mundo constitui uma alavanca fundamental para o futebol português ao nível da concepção de jogo e de treino.
Sem falsas euforias, Portugal está na moda no que ao futebol diz respeito. O “jogador português” é apreciado mundialmente. Ao contrário do que alguns teóricos afirmam, a exportação dos nossos melhores valores pode contribuir, como aliás já contribui, para a melhoria gradual do futebol português. O caminho passa, efectivamente, pela exportação (pois outro modelo não é sustentável) e pelo investimento desses proveitos na boa formação de novos atletas e novos técnicos.
O futebol profissional é uma indústria que alimenta muitas famílias e sectores de actividade. Portugal, um país carenciado de sectores produtivos que sejam competitivos internacionalmente, tem no futebol não um “escape” mas uma oportunidade de sucesso. No entanto, como em qualquer outra actividade, o sucesso não depende apenas da matéria-prima e da criatividade de quem a trabalha. Bons gestores precisam-se.
Quando o jogo de ontem acabou, disse para o meu avô: - “Demorámos 40 anos para repetir a proeza mas daqui a quatro anos estaremos na África do Sul a perseguir novamente o sonho! Nada será como antes…”. O meu avô respondeu-me: - “Pois, mas provavelmente, já não estarei cá para ver…”.
O sucesso, tal como o ser humano, é efémero… - pensei eu.
Publicado por
Nuno Q. Martins
15:56
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quinta-feira, 6 de julho de 2006
às15:56
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5 comments:
Excelente análise.
Há matéria prima de qualidade para a renovação (João Moutinho, Nani, Manuel Fernandes, Hugo Almeida, Nelson, Varela, etc), assim haja competência para dirigir. Reforço a tua ideia de que a gestão é fundamental. O dirigismo tem sido, a par da arbitragem, um dos maiores calcanhares d'Aquiles do futebol português. Há que acabar sem contemplações com eventuais faltas de rigor e de qualidade, com a incompetência e com as situações dúbias e promover a seriedade, os capazes e competentes, venham eles donde vierem. O futebol pode ser realmente um exemplo de sucesso interno e de exportação num país que não tem muitos exemplos desses. Algumas mentalidades também devem mudar urgentemente, sob pena de alastrar incontrolavelmente alguma fama de fiteiros que se vai difundindo em alguma imprensa estrangeira. Refiro-me aos jogadores que preferem abdicar da disputa de um lance para se atirarem ao chão e tentarem enganar o árbitro e conquistar um livre perigoso, um penalti... os treinadores, a começar nas camadas jovens, têm aqui um papel importante. Talvez este fosse um tema interessante para debate aqui no blog...
N.Cruz
Meu Caro Nuno.
Nunca julguei vir meter-me num blog dedicado ao desporto, mais concretamente ao futebol.
Excelente análise meu Caro futuro advogado de sucesso.
É que o Candal já acabou o seu "campeonato" parece-me.
O Celso Cruzeiro daqui por mais meia dúzia de anitos, pensará, estou certo, em deixar a competição das "Barras" do Tribunal, e a vida nem por isso vai parar e tem de se renovar.
É o ciclo natural da natureza.
Sobre o tgema em análise, concordo com o que disse, corroboro do mesmo modo a participação interessante elucidativa e pedagógica, do anónimo acima.
Por outro lado entendo perfeitamente a preocupação do seu avô, mas eu penso que lá vai chegar.
Somos capazes é de assitir a um futebol mais diferente ainda, e daí, até pode ser que não.
O seu avô vai aguentar-se,todos nós o vamos fazer.
Muito antes dele e de outros entre nós, já arrumaram as botas aqueles que julgavamos eternos, como o Figo e Pauleta, não esquecendo o nosso Eusébio a quem a lei da vida impôs o descanso há muito.
Todos os dias nascem e morrem vedetas, a renovação é permanente, uns são "abafados" na memória ou não, outros, como diz e bem, efemeramente vivem um tempo que é só seu, e que nós erradamente pensamos ser de todos.
Foi bom enquanto durou, a vida faz-se de pequenos momentos de felicidade,e há sempre coisas a reformular, é que tudo se transforma nada "nasce" ou "morre".
Um abraço
Jardel no Beira-Mar? LOOOOOOOL
Caro Narciso;
Obrigado pelo comentário.
Concordamos em absoluto que o futuro próximo do futebol português está na mão da classe dirigente. Temos bons jogadores, temos bons técnicos, temos melhores infra-estruturas (bons estádios, proliferação de sintéticos, mais campos relvados, etc), urge, de facto, gente competente para gerir e projectar estes "recursos".
Seria um bom tema para discussão aqui no blog se houvesse mais gente a participar... mas já estou habituado a que as discussões mais participadas neste blog (mas também um pouco por toda a blogosfera) são aquelas que, de algum modo, susciptam polémica em torno de determinadas pessoas.
Um abraço.
Caro Terra & Sal;
Congratulo-me por ter escolhido o BN para quebrar o hábito de não comentar blogues desportivos. Mas, olhe, o BN é um blogue dedicado ao Beira-Mar e, concordemos, um clube não é (pelo menos, não devia ser) só futebol. Há toda uma envolvência social que ultrapassa os limites das quatro linhas do relvado.
Falou-me do Dr. Candal e do Dr. Celso Cruzeiro. Prognosticou-me um advogado de sucesso.
Peço-lhe, não ponha a fasquia nesses termos. Não tenho essa ambição. Quero acabar o curso e depois, com cautela, escolher um caminho seguro que me proporcione apenas o bem-estar necessário para viver com tranquilidade. Só.
Tenho os meus ouvidos cheios do termo "Competitividade". No anseio desmedido por um aumento de produtividade, reduz-se tudo a competição e esquecemo-nos, precisamente, que o sucesso é efémero e não um fim em si mesmo.
No fundo, aquilo que pretendi transmitir no post, em termos abstractos que também se podem aplicar ao futebol, é que mais importante que ser o melhor uma ou outra vez ocasionalmente, é estar sempre entre os melhores. O sucesso pode obter-se com sorte esporadicamente, mas só permanece e se consolida no tempo com muito engenho.
Um abraço.
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