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sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Desabafo...

Lembro-me de em criança ir ver os jogos do Beira-Mar, mesmo na zona centro da segunda divisão, e o estádio ter sempre muita gente a ver os jogos; lembro-me de ser fan do Manecas (há praticamente 30 anos, sei lá) e de passar por baixo da rede do antigo Mário Duarte para ir ver os jogos; lembro-me das bancadas atrás da baliza norte serem de pau; lembro-me do primeiro jogo a que fui, pela mão do meu pai, um Beira-Mar – Belenenses (acho que particular) e de, antes do jogo, um grupo de pessoas com camisolas amarelas percorrer as artérias da cidade a pedir dinheiro para pagar a deslocação seguinte da equipa. Só não me lembro do futebol me entusiasmar tão pouco como hoje (e vão três décadas), de sentir tanta corrupção por causa duma coisa que, por mais que se esforcem, não passa dum jogo de futebol. Não me lembro de, como hoje, ter na organização da principal liga portuguesa tantos suspeitos de corrupção e tanto discurso falacioso.
Estou um bocado cansado, admito, e a única coisa que quero neste momento, e neste âmbito, é que o Beira-Mar vá passando o mais possível ao lado disto. Gosto de sentir que temos um treinador que, apesar de profissional, tem alguma ligação emocional ao clube; que o Diakité cá quis ficar apesar de ter tido possibilidades de ir para França; que o Ribeiro continua a ter amor à camisola jogue ou não jogue. São estas coisas que ainda me fazem pagar quotas e ir ao estádio ao Domingo, sempre que posso. Quando sentir que isto acabou de vez, também eu me afasto.
O Beira-Mar nunca teve um estádio tão grande, e nunca teve tão pouco público. Isto quer dizer o quê? Que o futebol se está a tornar numa indústria que se sustenta em tudo menos no fenómeno desportivo. Sustenta-se sim, numa contínua mentira em que ninguém acredita.
Quando, em 99, vencemos a Taça de Portugal, nas semanas seguintes todos os aveirenses eram do Beira-Mar. Hoje voltámos à média de três mil espectadores por jogo. A oportunidade não foi aproveitada, e são esta oportunidades é que têm que ser aproveitadas para que um clube cresça genuinamente, não é a mudar todos os anos de equipamento, nem a entrar em discursos de "coitadinhos que nós somos, ninguém nos liga e todos nos querem mal", nem a suportar estádios e insuportáveis. Gosta-se do Beira-Mar porque se gosta de viver em Aveiro, ou em Ílhavo, ou na Murtosa, ou em Estarreja; gosta-se do Beira-Mar porque há uma ria que nos liga e gostamos da luz e do cheiro que ela nos trás todos os dias. Ou então não se gosta e gosta-se doutra coisa qualquer só porque é maior e venceu mais vezes (seja o Benfica, o Porto, o Sporting ou outra coisa qualquer) sem sequer perceber muito bem porquê.
Gostava que os aveirenses (falo de todos os da região de Aveiro) fossem do Beira-Mar mesmo, e não apenas quando calha ganhar uma taça de Portugal, mas para isso é preciso mais que o esforço duma direcção ou de uma equipa. É preciso que o futebol se torne de novo credível e que, à sua frente, tenha pessoas sérias e honestas, e não políticos de pacotilha. Por aqui me fico, pedindo desculpa por este desabafo.

Ivar Corceiro
Fonte:
Portal Beira-Mar

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