quarta-feira, 11 de abril de 2007
Um miúdo deficiente
Tácticas e organização
Sei que vou ser controverso, mas não gostei da exibição do Beira-Mar frente ao Benfica. Claro que o empate é positivo, quanto mais não seja, pela diferença de orçamento entre os clubes e pela atmosfera envolvente que mais parecia o Estádio da Luz do que o Estádio Municipal de Aveiro. De facto, os aveirenses estão a marimbar-se para o clube da sua terra e demonstraram, uma vez mais, que vivemos numa cidade com elevado défice de identidade própria e bairrismo. No entanto, não quero falar mais dos camaleões. Prefiro aqui valorizar os poucos que se mantêm fiéis às cores auri-negras, pois sinto que somos uma espécie em vias de extinção.
Voltando à exibição da equipa, volto a dizer que não gostei. Perante um Benfica desinspirado, o Beira-Mar voltou a defender muito mal e valeu-nos por diversas vezes as excelentes intervenções do Eduardo, os erros do árbitro auxiliar na primeira parte e algumas falhas do Benfica ao nível do último passe. Caso contrário, certamente teríamos chegado ao intervalo já em desvantagem no mercador.
Dizem os entendidos que "os ataques ganham jogos, mas são as defesas que ganham campeonatos". Neste aspecto, acho que o Beira-Mar defende muito mal. Permitimos ao adversário todo o tempo e espaço para organizar o seu jogo. Não marcamos individualmente as melhores unidades dos adversários e, como não temos um colectivo forte, acabamos por ser encostados às cordas durante quase todo o jogo.
O Beira-Mar teve sempre a sua baliza entre-aberta para o Benfica marcar. Não quero entrar em análises individuais pois estamos na véspera de um jogo importantíssimo e, como sei que alguns jogadores e dirigentes visitam o BN, não quero ser acusado de estar a destabilizar. No entanto, após a saída do Anderson para a entrada do Derlei aos 65m, Soler esteve mal ao retirar o Luciano Ratinho (76m) fragilizando o meio campo. De nada vale ter um ala muito rápido em campo (Matheus) se o principal distribuidor de jogo é retirado. Deixámos de conseguir segurar bolas no "miolo", perdeu-se capacidade de transição e só por uma vez o Matheus teve oportunidade para desiquilibrar (felizmente proporcionou o segundo golo!). Só que entretanto, já o Benfica tinha intensificado o seu assalto à baliza auri-negra e conseguido o empate com o golo de Mantorras aos 82m.
Na minha opinião, apesar de termos sido prejudicados por uma dualidade de critérios gritante por parte da equipa de arbitragem, tenho de admitir que o resultado acabou por ser positivo. Lamento, sobretudo, a incapacidade do Beira-Mar de anular as pedras mais influentes do Benfica (que tiveram uma noite desinspirada para nossa sorte!) e os poucos contra-ataques realizados com real perigo para a baliza de Quim.
Contudo, noto com agrado que ao fim de não sei quantos jogos, o técnico Soler percebeu que neste tipo de jogos é preciso actuar com dois médios interiores e dar preferência à cobertura das alas em detrimento dos dois avançados na frente. Até o Delibasic ganhou com este esquema.
Nestes últimos jogos a equipa tem de melhorar muito a sua postura defensiva, porque com a bola no pé, o Beira-Mar possui jogadores com capacidade de desequilíbrio no último terço do campo. É preciso é não esquecer que uma equipa se constrói de trás para a frente e não o inverso.
Falhas na organização do jogo
Na semana que antecedeu o jogo, os responsáveis realizaram uma conferência de imprensa para dar conta de que este jogo estava a ser preparado ao pormenor, mas, para não variar, quanto mais se propala, mais se falha.
Na semana que antecedeu o jogo, os responsáveis realizaram uma conferência de imprensa para dar conta de que este jogo estava a ser preparado ao pormenor, mas, para não variar, quanto mais se propala, mais se falha.
Por incrível que possa parecer, a claque oficial do Beira-Mar não foi contactada pela PSP nem pelo Beira-Mar na preparação do jogo. Procedimento contrário mereceram as claques benfiquistas que até tiveram direito a fitas na bancada para delimitar a sua zona.
O habitual sector dos Ultras Auri-Negros - autêntica "aldeia gaulesa" neste encontro - foi vendido ao público e foram muitos os adeptos benfiquistas a reclamar (com toda a razão) o seu lugar naquele sector. Não fosse o civismo de parte a parte, e a situação poderia ter degenerado em conflitos graves pois os Ultras também não abdicaram do seu sector habitual.
O problema é fácil de explicar. Os elementos dos Auri-Negros têm bilhetes anuais que, estupidamente, se referem a lugares na bancada norte dispersos pelo sector A13. Desde há três anos, ou seja, desde que os UAN se encontram na Bancada Norte, o sector ocupado é o A14. Os responsáveis do Beira-Mar não acautelaram o seu próprio erro e os adeptos, os menos culpados, é que tiveram de aguentar a situação. Curioso que a PSP não contactou os UAN, não isolou o sector auri-negro e ainda pretendeu impedir a entrada das bandeiras e do megafone. Isto de ser adepto do Beira-Mar é muito difícil, até mesmo nos jogos em casa.
Um miúdo deficiente
Uma senhora abordou-me no sentido de lhe indicar uma casa de banho para deficientes, pois o seu filho tem espinha bífida e ela, quando se dirigiu à Loja Amarela, fez questão de referir que queria um bilhete para um deficiente e perguntou se o estádio tinha lugares específicos para deficientes. O "rapaz louro" que lhe vendeu o bilhete disse que sim e ela ficou descansada. Para seu espanto, o bilhete era para o meio da bancada norte, num lugar igual ao do comum adepto. Afinal, não havia qualquer lugar específico para deficientes.
Ora, interrogo-me, tendo o estádio uma bancada específica para deficientes (entre o 1º e o 2º anel dos topos) com acesso por elevador e com casas de banho preparadas, como é que é possível mandarem o miúdo para um local sem as condições apropriadas e sem casas de banho preparadas para os deficientes?
Aconselhei a senhora a pedir ajuda aos seguranças da 2045 que a levaram e ao seu filho à dita bancada para que pudesse levar o filho à casa de banho. Teve que sair do estádio e voltar a entrar. A referida casa de banho não tinha luz. Acabou por voltar para a Bancada Norte. Com estas voltas todas e com as dificuldades de locomoção que podem imaginar, a senhora e o filho perderam boa parte do jogo. No final, a senhora estava indignada. São coisas que tenho mesmo muita dificuldade em compreender...
FOTOS: Visto de Fora
Publicado por
Nuno Q. Martins
21:41
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quarta-feira, 11 de abril de 2007
às21:41
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6 comments:
É incrível essa história do miúdo deficiente. A do sector dos UAN já é má, mas essa história do miúdo revela uma incompetência intolerável!...
É inaceitavel, pq o estádio tem espaço proprio para deficientes.
ML
Houve várias pessoas com quem falei que também não foram revistadas. E depois há desgraças e admiram-se...
Off topic:
Nuno O site do livro "O nosso modo de ser" já está online
Desculpa, mas as férias e o "estar parado.." deu tempo para organizar certas coisitas..
espero que tudo fique bem..
Link: http://www.onossomododeser.pt
Aquele abraço..
Boa tarde
Descobri à pouco tempo este blog e queria deixar aqui os meus parabéns ao seu autor. tem feito um grande trabalho.
nota tambem para a referencia aos poucos resistentes que continuam a lutar somente pelo Beira-Mar.
De facto fiquei estupefacto quando soube que estavem 29000 benfiquistas no estádio de aveiro.. é algo que assola o país, este fenomeno de bi-clubismo e ainda para mais quando leio aqui qiue os próprios aveirenses querem o beira-mar na segunda.
continuem a lutar, pelo beira-mar e pela vossa cidade, não desistam.
de um vitoriano, um abraço daqui berço,
mike
Claro que o problema dos camaleões é nacional e não só do Beira-Mar, e para além dos 3 grandes so mesmo Leixões e Guimarães amam verdadeiramente o seu clube, é onde penso que ainda existe algum bairrismo.
Quanto a história do miudo..., bem, penso que já disseste tudo...
Das tácticas, todos são treinadores de Bancada e por isso todos tem a sua opinião assim como tu tens direito a tua, onde em algumas partes posso concordar contigo, outras não, pois de fora é sempre mais fácil, eu próprio assim o faço, mas onde realmente concordo contigo é nisto"não esquecer que uma equipa se constrói de trás para a frente e não o inverso."
O resto é a tua opinião de observador, como muitos outros, que se fossem a perguntar qual a equipa ideal e a sua táctica, se calhar tinhamos nao sei quantas equipas diferentes.
Aconselho a todos para falar de tácticas , sistemas e modelos, saber primeiro qual o seu significado e onde se encaixam,de certeza que serão mais produtivas as suas visões estratégias...
Abraço e já sabes a minha opiniao,pois já a deves ter lido.
Fica bem
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