"A prudência é a mãe da segurança"
Escolhi este velho dito popular porque, se há coisa que prezo na vida, é a prudência que nos conduz a juízos mais equilibrados connosco próprios e também com os outros. Como não sou pessoa de acatar julgamentos que podem ser tendencialmente injustos ou exagerados - sejam lá eles contra quem forem -, sinto-me no dever de reagir a estas declarações do Vice-Presidente da SAD, Omar Scafuro, à Rádio Terranova.
Sem falsas e desnecessárias modéstias, tenho uma vivência suficiente da realidade do Beira-Mar - apesar de nunca ter feito diretamente parte de nenhuma gestão - que, apesar de ainda ser jovem, me permite analisar, com conhecimento de causa, os últimos 20 anos do clube. Tal conhecimento resulta do facto de, desde tenra idade, me ter interessado pela vida do Beira-Mar. Lembro-me de aprender a ler com o Diário de Aveiro à minha frente e a fazer recortes - que ainda hoje guardo - das notícias sobre o Beira-Mar. Desde pequenino que ia ao futebol e ao basquetebol com o meu pai. Aos meus 9 anos de idade, pedi ao meu pai, como presente de aniversário, o cartão de sócio do Beira-Mar, apesar dos meninos da minha idade, naquela altura, não precisarem de pagar para assistirem aos jogos. A partir do momento que me tornei sócio, comecei a acompanhar o meu pai às assembleias gerais do clube. Depois, já com 16 anos, veio o gosto pelos grupos organizados de adeptos. Em 1996, integrei os Komandos Duros e, quatro anos depois, em 2000, fundei e presidi à direção dos Ultras Auri-Negros. Em 2001, senão me falha a memória, integrei pela primeira vez o Conselho Geral do Beira-Mar. Em 2005, ano em que criei o Bancada Norte, tive que abdicar da liderança dos UAN e não me recandidatei. Tinha um curso superior para terminar! Em 2006, acedi a colaborar com a academia de futsal. Em 2007, demiti-me do Conselho Geral do Beira-Mar em desacordo profundo com o caminho trilhado pela direção liderada por Artur Filipe. Nessa altura, decidi tentar envolver os sócios num debate alargado sobre a situação do clube. Fui um dos poucos sócios que ousou votar contra as contas que foram apresentadas e censurei publicamente a gestão praticada. Em Maio de 2008, perante o vazio diretivo do clube, empenhei-me fortemente em mobilizar pessoas credíveis para uma solução diretiva para o clube. Em 2010, perante os constrangimentos inerentes às penhoras movidas pelos ex-dirigentes e a ausência de soluções de financiamento para o clube, defendi a constituição duma SAD para o futebol profissional, tendo colaborado num grupo de trabalho que elaborou uma proposta que acabou por ser atraiçoada por quem se tinha comprometido a fazer a sua apresentação e a sua defesa, transformando aquela que devia ser uma decisão estratégica para o clube, num acto de consciência individual de cada um. Em 2011, quando foi tornada pública a intenção da direção do Beira-Mar constituir uma SAD, alertei o presidente António Regala para alguns perigos que devia ter em conta, o qual pura e simplesmente se marimbou para os alertas que lhe fiz. Na Assembleia Geral que aprovou a constituição da SAD, tive a oportunidade de intervir e apelar para que a assembleia aprovasse os pressupostos da constituição da SAD. Ninguém me deu ouvidos. A assembleia estava encantada com o Sr. Pishyar e com a ideia do prometido dinheiro fácil vindo do Irão. Em 2012, numa Assembleia Geral convocada pelo grupo "Beira-Mar Transparente", denunciei perante os sócios, os graves erros que a direção cometeu na negociação da constituição da SAD. Em Junho de 2013, numa altura em que a direção já tinha assumido publicamente o conflito com o 32 Group e já não conseguia dialogar com a família Pishyar, consegui que o Sr. Amin Pishyar, sem que ninguém em Aveiro soubesse, viesse ao Porto e tive uma reunião com ele, na qual estiveram outras duas pessoas. A equipa de futebol tinha acabado de descer de divisão e, caso não fosse estruturado um projeto que permitisse construir uma equipa de futebol com capacidade para regressar à 1ª liga, o clube correria sérios riscos. A reunião correu bem e terminou com um princípio de acordo. Estavam criadas as condições para o 32 Group se manter e partilhar os riscos de financiamento da nova época. Infelizmente, a interferência posterior de terceiros (pessoas que se estão a marimbar para o Beira-Mar e que estão sempre à espreita duma oportunidade de ganhar protagonismo e dinheiro fácil) inviabilizou que a família Pishyar concretizasse o acordo alcançado. A história que se seguiu depois, por ser recente, com mais ou menos pormenores, a maioria das pessoas certamente se lembrará.
E fui repescar todos estes acontecimentos e vivências auri-negras para fundamentar a legitimidade que me assiste de comentar as declarações do Sr. Omar Scafuro, quando o mesmo chama "ladrões" aos anteriores dirigentes do clube, sem identificar, em concreto, a quem se refere. É que tal afirmação, proferida desta forma genérica e abstrata, lança "lama" também para cima de todos aqueles dirigentes que serviram o clube sem dele se servirem. É o perigo inerente à generalização. E, porque a história também se faz de factos e elementos que nunca são contados por aqueles a quem não aproveitam, penso que são de evitar os comentários públicos que possam fomentar divisionismos entre os poucos sócios que ainda se interessam pelo clube.
Saúdo o Grupo Pieralisi pela energia e a vontade demonstradas na reestruturação da SAD. É uma lufada de ar fresco para todos nós que já desesperávamos com o bloqueio que se assistiu nos últimos meses da relação entre a direção do clube e o 32 Group.
Este deve ser o tempo duma nova oportunidade ao diálogo. Deve ser o tempo de estabelecer pontes onde até aqui existiu divisão. Acredito que com serenidade e inteligência, será possível obter acordos com os credores que permitam a revitalização da SAD. Quem se propõe dirigir, tem que se orientar pelos melhores princípios de gestão. Não me parece que alimentar conflitos, sejam eles publicamente ou nos tribunais, vá beneficiar nalguma coisa a SAD e/ou o Beira-Mar. Ficarei muito desiludido se a via a adotar pela nova administração da SAD seja a mesma via que conduziu o clube e a SAD até ao ponto em que estamos. O estabelecimento de "inimigos comuns" pode incrementar a cumplicidade circunstancial e pontual entre as estruturas do clube e da SAD, mas certamente não produzirá bons resultados para nenhuma das entidades no futuro. É fundamental que a nova administração da SAD estabeleça o seu plano e trate de encontrar parceiros com capacidade para o aplicar, rompendo com um passado caracterizado por interesses e conflitos pessoais que só serviram para desunir os Beiramarenses.
Duas notas finais: A primeira para a permanência do Jorge Neves na equipa técnica. Uma decisão que me parece ser muito acertada e um bom exemplo da prudência que deve estar sempre associada à gestão. À novel equipa técnica do SC Beira-Mar, desejo as maiores felicidades e que hoje tenha sido dado mais um importante passo na caminhada de regresso à 1ª liga que é absolutamente essencial para a recuperação da SAD e do Clube.
A segunda nota, para dar conta que hoje o Clube vai ter dois momentos importantes. O primeiro será no piso -1 do EMA-MD, em que será atribuído o nome do Dr. óscar Neves ao posto médico, numa singela e justíssima homenagem, agendada para as 18 horas. O segundo momento será o jantar comemorativo do 92º aniversário, a partir das 20:00, no Salão Nobre dos Bombeiros Novos.
Publicado por
Nuno Q. Martins
04:12
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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
às04:12
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6 comments:
Não conheci mas deve ser justo.
Mas, Homenagear pessoas que estão a ser pagas pelo seu trabalho e esquecer quem de forma gratuita deu e alguns ainda dão, muito ao clube é uma ofensa moral para quem por carolice está com o SCBM.
Subscrevo na íntegra o que diz o Snr. Nuno Quintaneiro. Não nos devemos esquecer do velho ditado"Quem semeia ventos colhe tempestades". Um conselho ao Snr. Omar Scafuro, evite este tipo de discurso,o passado recente começou assim e acabou mal. Como sócio não gostaria de ver o meu Clube na "lama".Há necessidade de unir os sócios e não dividi-los.
Esses cavalheiros(3) que vão para o camarote da presidência, quando ao Sr Regala foi vedado esse privilégio, pela antiga SAD, deveriam ter vergonha de se dizerem beiramarenses; cheira-lhes a dinheiro fresco, começam a querer também comer um pratinho de arroz de marisco
O que mais me angustia no meio de tudo isto é a clivagem cada vez maior que existe entre adeptos e clubes. Não há clube que resista sem adeptos! É certo que muitos dos actos cometidos por pessoas com "poder" no clube e na SAD proporcionam e ajudam a que tal aconteça, mas julgo que não será só disso...
Gostaria de lançar um desafio aos bloggers do Bancada Norte: um post onde identifiquem, escrutinem e lancem sugestões para as razões e para aquilo que acham que está a afastar cada vez mais os adeptos do Beira-Mar. Como Beiramarense, gostaria também de ouvir a opinião e os pontos de vista de quem está envolvido na vida do clube.
Obrigado.
quase duas semanas sem postar, estão a dormir?
Caro Meira, tomei nota do desafio e aceito-o. Assim que tiver um bocadinho de disponibilidade, irei redigir o que penso sobre esse assunto, mas antevejo um exercício bastante difícil o de condensar tudo num post.
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