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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

"SAD - Solução de futuro?" - artigo de opinião

O desporto, em geral, e o futebol, em particular, atingiram uma dimensão de negócio-espectáculo, a qual não só é amplamente reconhecida pela sociedade como é também um reflexo dessa mesma sociedade. A análise da evolução do desporto ao longo do tempo demonstra efectivamente a íntima relação existente entre o ambiente social e a actividade desportiva. O futebol, que no início do século XX era praticado a título amador, desenvolveu-se de tal forma que hoje representa uma indústria que movimenta milhões de euros, onde os jogadores constituem os seus maiores valores.
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Neste contexto, emergiram as Sociedades Anónimas Desportivas que representam uma nova forma de organização que, até há pouco tempo, pertencia em exclusivo ao domínio do associativismo.
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Antecipando algumas questões que serão, certamente, objecto de análise no debate que o «Movimento 1922» promove na próxima Sexta-Feira, solicitei ao Hugo Graça, conhecedor da realidade Beiramarense, um comentário prévio à possibilidade do nosso clube enveredar pela constituição de uma Sociedade Anónima Desportiva para a gestão do Futebol Profissional.
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SAD – Solução de futuro?
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A transformação em Sociedade Anónima Desportiva será uma solução para o futuro? É uma questão que se tem colocado nos últimos tempos. Com poucas fontes de proveitos (venda de jogadores, contrato televisivo, quotização, bilheteira e merchandising), os clubes vêm ano após ano o seu resultado líquido do exercício ser negativo, acumulando elevados Passivos que, em alguns casos, superam o valor dos Activos (situação de insolvência). Alguns clubes, com baixos proveitos operacionais, conseguem resistir a esta situação devido aos apoios extraordinários que recebem através das suas autarquias de forma indirecta. Que ninguém se iluda, um Clube na segunda divisão não consegue ser autónomo se não realizar uma boa venda de um jogador ou receber o tal apoio “extraordinário”.
Olhando para a nossa actual estrutura de capital, reparamos que o SC Beira-Mar possui Capitais Próprios negativos na ordem dos 4.000.000,00€, ou seja, o Clube possui mais 4.000.000,00€ de obrigações face aos seus direitos. A agravar todo este cenário, conclui-se também que o Passivo de curto prazo é muito superior ao de médio/longo prazo fazendo com que haja enormes dificuldades de liquidez.
Urge então pensar num modelo que seja propício à captação de investidores que estejam dispostos a apostar num mercado sui-generis como é o mercado do futebol. Somos então forçados a pensar no modelo SAD. Um modelo onde os investidores compram participação nos Clubes em troca de um retorno futuro através de uma mais-valia (preço de venda superior ao preço de compra) ou através do dividendo (% do lucro do exercício distribuído aos accionistas). Assim, aquando da abertura do capital ao mercado, o Clube irá conseguir obter um encaixe financeiro imediato para fazer face aos seus compromissos imediatos e assim conseguirá solver os seus compromissos mais prementes. Porém, sendo o futebol um mercado altamente especulativo e incerto, qual será o futuro após a emissão das acções?
Olhando para os modelos mais significativos em Portugal (Benfica SAD, Porto SAD e Sporting SAD) e à cotação dos seus valores mobiliários, reparamos que na óptica do investidor o investimento inicial tornou-se um desastre (para quem investiu aquando da emissão). Vejamos o caso do Porto SAD, que colocou em 1997 à subscrição acções ao preço nominal de 5,00€, encerrado a sessão de 31 de Julho de 2008 a valer 1,33€ cada acção. Se compararmos a desvalorização no ano de 2008 do Índice Psi-20 às acções do FC Porto, reparamos que a desvalorização das acções do Clube foram mais acentuadas em 7%. Em sentido contrário, o SL Benfica, através de uma espécie de OPA ou informação fantasma lançada propositadamente, conseguiu valorizar extremamente as suas acções num dado curto espaço de tempo. No entanto, falhando a mesma OPA as acções voltaram ao seu normal ritmo de perda. E porquê toda esta desvalorização?
1 – As SAD’s são criadas para obter financiamento rápido para fazer face aos seus compromissos. Como no caso do SC Beira-Mar, estamos a pensar formular uma SAD para que consigamos modificar a débil estrutura de capital.
2 – Este tipo de valores mobiliários são pouco apetecíveis e por isso são pouco transaccionados, originando assim pouca liquidez.
3 – O futebol é muito especulativo e existe muita incerteza. Quanto valerá um miúdo formado nas escolas que agora está um craque mas que no nosso activo não está reconhecido (por não ser fiável estimar o seu valor)? Será que o jogador brasileiro contratado por milhões de euros vai valer o valor despendido? Será um investimento com VAL positivo?
4 – A constante não distribuição de dividendos faz com que o investidor não se sinta tão motivado a investir como noutras Sociedades Anónimas que distribuem.
5 - Escassez de informação transmitida ao mercado. Normalmente as SAD´s não divulgam os valores dos seus contratos (sponsorização, televisão, atletas, equipa técnica). Logo, pode-se dizer que são sociedades menos transparentes que as sociedades em geral.
6 – A especificidade contabilística que implicava a amortização do custo de aquisição de um jogador pelo tempo do seu contrato. Sendo que, aquando da renovação, não havia a sua devida valorização no activo. Exemplo: Cristiano Ronaldo é contratado pelo Manchester por 60.000.000,00€ assina por 4 anos. No início do 4º ano o valor do Cristiano Ronaldo apenas está escriturado por 15.000.000,00€ e se renovar ficará escriturado pelo mesmo valor até chegar ao final do primeiro contrato onde, a partir daí, o seu valor para o Activo é 0! Poderá ser que com o novo normativo contabilístico (SNC) e com o critério do “justo valor” esta questão venha a ser melhorada, sendo certo que criará enormes especulações e volatilidades.
7 – O valor de mercado desce até níveis muito baixos. A 5 de Agosto de 2008 o valor de mercado da SAD portista era aproximadamente de 20.000.000,00€, a venda de um jogador comprava o FC Porto.
Estas são algumas razões que explicam o facto de o investimento numa SAD não ser um investimento racional. Mas a paixão por um Clube leva à irracionalidade. Usurariamente, quem investe num Clube não investe com perspectiva de investimento financeiro mas sim de paixão.
Será que no SC Beira-Mar teremos um volume de associados dispostos a tal? Será que conseguiremos captar grandes investidores a quem o SC Beira-Mar seja apenas uma plataforma de colocar dinheiro?É verdade que constituindo uma SAD se abrem uma série de portas a possíveis investidores, não só pela emissão de acções mas também de obrigações que num passado recente foram um sucesso no FC Porto. A procura superou em muito a oferta e o Clube encaixou 18.000.000,00€.
Acredito na SAD mas com uma gestão muito rigorosa e criteriosa onde se consigam produzir bons activos e se consigam desenvolver os activos comprados, onde hajam pessoas dispostas a investir (sem perspectiva de lucro), onde façamos mais valias com alienação de direitos desportivos e se faça um controlo de gestão apertado e que nem 1€ de despesa supere a receita.

*Hugo Graça (sócio nº 1502)

6 comments:

UAN disse...

TODOS A OLIVEIRENSE!!!

http://auri-negros.blogspot.com/2010/02/oliveirense-x-beira-mar.html

António Pista disse...

Os resultados desportivos deviam catapultar a população de Aveiro para ajudar o clube...


http://aguia-de-ouro.blogspot.com/

Anónimo disse...

Engraçado e incoerente. Como é que depois de enumerar varios factores que tudo nos fazia acreditar que o sr. Hugo era contra a SAD, eis que afinal é a favor.
É não ver para além do obvio.

António Varela

Anónimo disse...

Há factores externos que poderão tornar a SAD viável, meu caro António Varela. Não há mercados perfeitos!

Anónimo disse...

Não sei se a SAD é solução, sei é que a actual situação não o é.
É desejavel separar o profissional do amador, é necessario profissionalizar o que é profissional, isto só através de SAD´s.

S.Cruz disse...

À muito q não vejo o Sr. Graça... hmm tem gasto todo o seu tempo a fazer este artigo :P

De gestão não percebo nada mas como é paixão, se tivesse dinheiro para tal, tb era um investidor.

Mas é um facto que é preciso separar o profissional do amador sob o risco de perder tudo. Que se separe tambem a vontade de ter lucro.

abraço