sábado, 14 de março de 2015
Chegados a 2015, constatamos que o clube desportivo mais representativo da região de Aveiro não tem uma casa, vivendo disperso por campos, pavilhões e outros espaços doutros clubes e entidades. Não obstante as dificuldades inerentes à atual dispersão das células do clube por espaços de terceiros, é impressionante registar que o SC Beira-Mar continua a promover e a proporcionar a prática desportiva a mais de meio milhar de atletas, distribuídos pelas dez modalidades atualmente em atividade: andebol, atletismo, basquetebol, bilhar, boxe, futebol, futsal, hóquei em patins, judo e paintball.
Artigo publicado no suplemento Notícias à Beira-Mar, inserido no Diário de Aveiro, de 13-03-2015.
Os donos do Beira-Mar!
Já muito se discutiu sobre as causas que concorreram para o declínio do Sport Clube Beira-Mar. Desde 2005 que se verificou uma acentuada e gradual perda de associados do clube, a qual se pode justificar num conjunto de decisões e episódios que, em comum, têm o facto de terem contribuído para o insucesso desportivo e financeiro, levando à perda de património do clube para os credores e, consequentemente, a descredibilização pública da instituição.
Chegados a 2015, constatamos que o clube desportivo mais representativo da região de Aveiro não tem uma casa, vivendo disperso por campos, pavilhões e outros espaços doutros clubes e entidades. Não obstante as dificuldades inerentes à atual dispersão das células do clube por espaços de terceiros, é impressionante registar que o SC Beira-Mar continua a promover e a proporcionar a prática desportiva a mais de meio milhar de atletas, distribuídos pelas dez modalidades atualmente em atividade: andebol, atletismo, basquetebol, bilhar, boxe, futebol, futsal, hóquei em patins, judo e paintball.
É esta dimensão de clube formador
e eclético que nos permite afirmar que, apesar de todas as adversidades, o SC
Beira-Mar mantém intactos os princípios e os valores inerentes a uma
Instituição de Utilidade Pública, tendo sido agraciado na sua já longa história
com os títulos de Oficial da Ordem de Benemerência, Medalha de Prata e de Ouro
da Cidade de Aveiro, Medalha de Mérito Desportivo, entre tantas outras
prestigiantes distinções.
A cumprir o seu 93º aniversário,
o SC Beira-Mar agrega em si uma história de desenvolvimento desportivo e
recreativo duma comunidade que se projetou através duma marca, com uma forte
dimensão regional, que conquistou notoriedade e prestígio nacional e
internacionalmente.
Ser dirigente do SC Beira-Mar é,
por isso, um motivo de grande orgulho e, simultaneamente, de grande
responsabilidade. Ao aceitarmos dedicar tanto do nosso tempo e da nossa atenção
a este projeto associativo, sem qualquer tipo de benefício pessoal ou
remuneração, fizemo-lo na convicção de que poderíamos prestar um humilde
contributo à nossa comunidade, assumindo a missão de superar esta fase tão
difícil que o nosso clube está a passar.
Não podemos ignorar as profundas
alterações sociais verificadas nos últimos anos. Temos a consciência que a
sociedade está a desenvolver-se num modelo cada vez mais individualista, em
manifesto prejuízo do associativismo. Vivemos um paradigma assente na
competitividade, projetada e potenciada no ser humano individualmente
considerado, a qual fomenta uma perspetiva de realização pessoal do indivíduo
efémera, reduzida ao espaço temporal da sua própria existência, relegando para
um plano menor a participação e o envolvimento em projetos e iniciativas de
cariz associativos com uma dimensão inter-geracional. A mobilização em torno de
desígnios coletivos consistentes e duradouros afigura-se, por todos os motivos,
uma missão ainda mais complexa quando aliada a uma conjuntura económica e
financeira extremamente adversa que propicia a submissão da ética aos
interesses pontuais e individuais que se elevam em cada momento.
A realidade Beiramarense atual,
não obstante as suas idiossincrasias, não pode, naturalmente, ser desligada de
todo o contexto que a envolve. Se a comunidade, que é a verdadeira razão de
existir do clube, quiser que o mesmo projete a sua existência para além do
momento presente, tem necessariamente de assumir uma postura ativa na
construção dum projeto de vida intemporal para o clube, ao invés de “lançar
mão” de algumas aparentes soluções que apenas lhe permitem sobreviver por mais
uns tempos, diferindo as responsabilidades sobre as decisões difíceis para a
geração seguinte.
A Direção que integro não
pretende ficar na história do clube por ter sido a melhor, nem por ter sido a
pior. Quer ficar na história, assumidamente, por contribuir, tal como tantas
outras, enquanto estiver em funções, para o desenvolvimento e perpetuação da
atividade do clube, porque entende que a mesma é relevante para a comunidade.
Tal desígnio só se concretizará com o reforço da implantação do clube através
do desenvolvimento da sua atividade orientada para a satisfação, em primeira
linha, duma necessidade que a esmagadora maioria dos aveirenses reconhece:
Aveiro, enquanto concelho e capital de região, deve ter, porque merece, um
clube desportivo de referência. Ao consegui-lo, é na insígnia desse clube que
se projetam a capacidade, o empreendedorismo, a inovação, a visão e os valores
duma comunidade. É este o papel que a história reservou para o Sport Clube Beira-Mar.
O Beira-Mar não é apenas uma
equipa ou um clube de futebol profissional. Não é apenas um conjunto de pessoas
que se juntam para dinamizar umas modalidades. Não é apenas uma escola de
formação desportiva. Não é apenas uma entidade que organiza alguns eventos
sociais. Não é apenas uma insígnia de Aveiro que é tão conhecida no exterior
como os moliceiros ou os ovos moles.
O Beira-Mar é tudo isto e pode
ser ainda mais. O Beira-Mar é de Aveiro, é e será aquilo que os Aveirenses, que
nasceram ou vivem nesta região, queiram que seja. Mas é preciso que queiram.
Que desejem algo para a sua comunidade e que integrem o clube na função que lhe
competir. A indiferença reinante na comunidade em relação ao clube tem
contribuído para a sua destruição. Não apenas a destruição do clube, enquanto entidade,
mas também a diminuição da sua função social.
Os atuais órgãos sociais do clube
e as várias dezenas de dirigentes e colaboradores das modalidades em atividade
estão dispostos, enquanto houver força e motivação, para aguentar o clube vivo
e não desistir, em primeira linha, da sua função social. No entanto,
desengane-se quem pense que estes resistentes são movidos por um qualquer
combustível inesgotável. O SC Beira-Mar precisa, com urgência, de garantir um
projeto de desenvolvimento que seja sustentável e que permita afirmar-se em
todas as frentes que a comunidade a que se destina reclama.
A formação desportiva e o
desporto profissional são duas faces da mesma moeda e desempenham uma função
complementar na implantação e difusão da marca “Beira-Mar”, património de
Aveiro e dos Aveirenses.
Estar à altura das específicas
exigências do tempo presente implica um esforço de compreensão da História, dos
Valores, da Missão e da Ambição que os Aveirenses representam no seu/nosso Sport
Clube Beira-Mar.
Os Aveirenses, que nasceram ou
viveram em Aveiro, que ao longo destes 93 anos, de alguma forma, envergaram a
camisola auri-negra são os verdadeiros donos do clube! É, portanto, aos
Aveirenses que compete refletir e decidir qual será o futuro do Sport Clube
Beira-Mar nesta e nas próximas gerações.
Saudações Beiramarenses,
Nuno Quintaneiro Martins
Artigo publicado no suplemento Notícias à Beira-Mar, inserido no Diário de Aveiro, de 13-03-2015.
Publicado por
Nuno Q. Martins
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7 comments:
Quando o BM voltar a onde nunca devia ter saído eu também voltarei.
Bom artigo Nuno.
Vamos em frente,Presidente
Só os fracos desistem e nós,... e nós....somos Beira Mar.
o que perspectiva para o futuro do BM?
esta direção tem "alguma" na manga para pegar?
poderá levantar uma pontinha do véu?
Obrigado, dr.
Se os últimos tempos não foram nada fáceis, temos a consciência que os próximos também não o serão.
Importa, até ao final da presente época desportiva, clarificar a situação da SAD e viabilizar a gestão do clube. A situação é complexa, mas temos que ser capazes de a superar. A história e os valores do Beira-Mar obrigam a que nos mobilizemos em torno de soluções.
Peguem ou arranjem quem pegue na SAD, por favor.
Será muito mau recomeçar do zero e sem futebol profissional o nosso Beira ficará esquecido.
Se acabar o futebol profissional poucos quererão pagar 5 ou mais euros pró clube e depois como é que este sobrevirá se atualmente a direção apela tanto ao pagamento atempado das quotas?
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